Texto publicado originalmente do site do Portal INFONET, de
28 de junho de 2021
Por Marcos Cardoso (do blog Infonet)*
O Dia Internacional do Orgulho Gay, ou Dia Internacional do
Orgulho LGBTQIA+ — de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Pessoas
Intersexo, Assexuais e outros grupos e variações de sexualidade e gênero — é
comemorado no dia 28 de junho.
Nesta data, há 52 anos, iniciou-se a Rebelião de Stonewall,
uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade gay
contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu na madrugada no bar
Stonewall Inn, localizado em Manhattan.
Os motins são considerados como o evento que desencadeou o
movimento moderno de libertação gay e da luta pelos direitos LGBTQIA+.
Pela primeira vez, jovens homossexuais, lésbicas, drag
queens e transexuais decidiram não tolerar mais o abuso policial e encurralaram
um grupo de agentes durante uma operação no bar gay do Greenwich Village.
Eles não tinham consciência da dimensão histórica do evento,
que mudaria a vida de milhões de pessoas no mundo.
No fim dos anos 60, a homossexualidade era considerada uma
doença, o sexo homossexual era ilegal nos Estados Unidos, os gays viviam de
modo secreto e podiam perder o emprego ou suas casas se fossem descobertos.
Nenhuma lei protegia a comunidade. Muitas vezes eram
atacados nas ruas ou detidos pela polícia por conduta indecente.
O bar Stonewall Inn era administrado pela máfia e vendia
bebida alcoólica sem autorização, mas o lugar era um refúgio em meio à
opressão.
Diante do bar, Martin Boyce, disse à Agence France-Presse:
“Era um lugar incrível. Neste bar você podia ser você mesmo, apesar de ser
administrado pela máfia, apesar de ser um lixo, nós estávamos felizes em ter
qualquer coisa”.
Para ele, “Stonewall é um verbo, uma palavra de ação, e
sempre será”. O Stonewall Inn foi declarado monumento histórico nacional pelo
ex-presidente Barack Obama em 2016.
Os movimentos pelos direitos dos negros, das mulheres, dos
latinos, a revolução sexual e os protestos dos estudantes em 1968 e contra a
guerra do Vietnã contribuíram para criar o ambiente propício à mudança.
A Rebelião de Stonewall inspirou a Parada do Orgulho Gay, ou
Parada do Orgulho LGBT, agora LGBTQIA+, realizada em diversas cidades do mundo
quase sempre no mês de junho.
No ano passado e neste ano, por conta da pandemia, o evento
tem acontecido virtualmente, sem os famosos desfiles, como aquele que pinta de
cores e alegria as avenidas Paulista e Consolação, no Centro de São Paulo, um dos
maiores do mundo e que agora completaria 25 anos.
Mas o espírito de resistência e libertação nunca esteve tão
fortalecido.
Na semana passada, quando a Hungria aprovou uma lei anti-LGBTQIA+, que, mais de 50 anos depois de Stonewall, proíbe a “promoção” da homossexualidade entre menores de idade, o assunto mexeu com a comunidade europeia e penetrou na disputa da copa de seleções regionais, a Eurocopa.
E quando o estádio de Munique seria iluminado com as cores
do arco-íris, em uma partida entre Alemanha e Hungria, e a manifestação de
apoio à causa gay foi proibida pela Uefa, entidade responsável pelo futebol na
Europa, a luta contra o preconceito ganhou uma dimensão maior do que a
esperada, espalhando pelo mundo a certeza de que a igualdade entre as pessoas é
um passo sem volta.
A Hungria é presidida por Viktor Orban, um político de
extrema direita intolerante com pessoas diferentes dele, como os imigrantes e
os gays. Do outro lado do continente que parece cansado da homofobia, o premiê
de Luxemburgo, Xavier Bettel, primeiro líder da União Europeia a casar
legalmente com uma pessoa do mesmo sexo, declarou referindo-se ao líder
húngaro:
“Eu não me tornei gay. Eu sou, não é uma escolha. A minha
mãe odeia que eu seja gay, eu vivo com isso. E agora você põe isso numa lei. Eu
o respeito, mas esta é uma linha vermelha. É sobre direitos básicos, o direito
a ser diferente”.
É assim: você não escolhe ser gay, mas escolhe ser
desrespeitoso e intolerante.
*Marcos Cardoso é jornalista e escritor. Foi diretor de Redação
do Jornal da Cidade, secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju,
diretor de Comunicação do Tribunal de Contas de Sergipe e é servidor de
carreira da UFS. É autor dos livros “Sempre aos Domingos – Antologia de textos
jornalísticos” e do romance “O Anofelino Solerte”.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br
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