terça-feira, 21 de abril de 2020

Da Peste Negra ao Coronavírus e a Vulnerabilidade da Vida Humana


Publicado originalmente no site [obviousmag.org]

Da Peste Negra ao Coronavírus e a Vulnerabilidade da Vida Humana 
Por Domie Lennon

Infelizmente vivemos agora no século XXI o mesmo que muitas outras gerações anteriores viveram. Desde a Peste Negra, passando pela Gripe Espanhola que, em 1918 dizimou entre 17 milhões e 50 milhões de pessoas, aproximadamente um quarto da população mundial, tivemos em 2009 a segunda crise causada pelo vírus influenza, ou H1N1. A primeira foi a gripe espanhola.

É recorrente que a humanidade tenha que enfrentar seres tão pequenos e, aparentemente, incapazes de causar danos. Contudo, seus estragos são catastróficos. No século XIV bactérias vindas de pulgas e que se propagavam através dos corpos de ratos contribuíram para a morte de um terço da população europeia. Sua origem foi, coincidentemente, asiática, tal como está sendo agora com o Covid-19 e, sua primeira parada, fora também a Itália, na época um importante entreposto comercial e, então, teria chegado através dos grandes navios comerciais genoveses. A Itália, portanto, representava o monopólio comercial com o Oriente e assim, tornou-se porta de entrada da bactéria para o restante da Europa.

É meus caros, a história parece se repetir. Também existe a semelhança com relação à Gripe Espanhola, onde, para que a bomba relógio da Primeira Guerra Mundial não fosse atrasada, criou-se o mito de que o problema estava se manifestando mais na Espanha, escondendo a realidade da população, enquanto se alastrava por vários países europeus. O mesmo ocorreu desta vez, onde já se especula que o primeiro caso não tenha sido somente em dezembro mas sim, muito antes, lá por setembro de 2019, por exemplo.

Por que as autoridades chinesas então não liberaram as informações e ainda ameaçaram o tal médico de estar criando pânico na população? Não podemos ter alguma resposta para esta pergunta ainda, porém, obviamente, por questôes comerciais e econômicas. Não se sabe ainda a origem do vírus, porém, já existiam artigos em 2007 alertando sobre o coronavirus ser apenas questão de tempo para vir à tona. O nome do estudo é “Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus as an Agent of Emerging and Reemerging Infection” publicado pela revista "Clinical Microbiology Reviews Journal".

Ao que parece, o vírus pode ter vindo do hábito de se comer animais silvestres no sul da China, onde a população estaria se colocando em risco através deste comportamento. Mero engano quem pensa que podemos culpar os chineses por isto, afinal, comemos alguns alimentos de origens muito questionáveis e não, também não podemos dizer que o vírus foi criado em laboratório pois também já há matérias de cientistas que fizeram pesquisa e constataram que este não foi criado para destruir a humanidade em troca de crescimento econômico chinês. Não seria a primeira vez em que a China estaria sendo culpada por espalhar pelo mundo as pandemias mais letais para o restante da humanidade. Assim o foi com a Peste Negra, com a Gripe Espanhola e agora com o Coronavirus.

Talvez sim, devêssemos rever o hábito alimentar de se comer morcegos, mas não podemos definir uma população como a culpada por isto tudo.

E assim, cerca de 100 anos depois, voltamos a passar pela preocupação de milhares de mortes. Mesmo com a ciência mais avançada, mesmo com vacinas criadas e mesmo com toda a informação. Apesar de termos avançado tanto na ciência, parece que o grau de compreensão da sociedade de forma geral não acompanhou com mesma velocidade esta evolução. Vê-se pela quantidade de pessoas descrentes da real gravidade da situação. Estas, muitas vezes, chegam a debochar de tais condições de desespero de outros. Eu me pergunto de não assistem aos jornais, se não acompanham a quantidade de mortes diárias na Itália, ou se não percebem a simbologia de ver a capital do consumo, Nova York, fechada. Ou, podem ser apenas pessoas psicopatas mesmo, talvez.

De toda forma, estamos com um grande problema. O maior dos problemas de nossa geração. E agora? O que vamos fazer com relação a isto? O Brasil está cada dia com mais casos (isto sem contar aqueles que não foram diagnosticados corretamente). O mundo está parando. Os médicos entrevistados de regiões muito afetadas pedem para que respeitemos o isolamento e que é mero engano pensar que o vírus só acomete idosos. Não consigo imaginar como deve estar sendo estressante viver na Itália neste momento. Como seria lidar com pessoas queridas se despedindo de nós através de tablets, sem poder nos dar um tchau, pessoas que neste momento devem estar vendo suas vidas passarem como um filme em suas cabeças, sabendo que a morte pode chegar a qualquer momento. O brasileiro, normalmente, não se permite ter estes pensamentos reflexivos. Já imagino alguém lendo isto aqui e dizendo, meu Deus pare de pensar estas coisas, mas que exagero! Quanto drama!

Caros, infelizmente, desta vez, não há drama. Mas sim, a pura realidade. E realidade que nos acometerá em breve se continuarmos, cegamente focando em resultados econômicos. "A economia não pode parar". Queridos, vai parar por bem ou por mal. Qual vocês escolhem?

Existe economia em um país que lida com mil mortes diárias? Apenas reflitam.

É chegado o momento de o liberalismo acalmar os ânimos e dar espaço ao papel que um Estado Nacional tem a responsabilidade de desempenhar. Devemos aguardar e pressionar para que o governo nos dê o mínimo para viver neste momento. Mas tudo menos ocupar os metrôs na segunda-feira novamente. O preço desta decisão será muito alto. A você, caro trabalhador, que concorda com isto, imagine a situação: neste momento seu chefe está isolado e seguro no carro dele buzinando para protestar que o comércio volte a funcionar. Quem estará em meio a aglomerações na segunda-feira nos transportes públicos será você. Não será ele. Reflita sobre isto. Leiam mais sobre os relatos trágicos de pessoas jovens, que desacreditaram na real ameaça que este vírus representa.

Sabemos que ficar em casa pode ser muito estressante, mas imaginem que, pela primeira vez na história da humanidade, podemos salvar tudo apenas ficando dentro de casa. Esta frase se tornou clichê, mas é a realidade. Não temos que ir à guerra, não fomos recrutamos. Não temos que nos despedir de nossos familiares sabendo que estes podem nunca mais voltar para casa, tal como o foi nas guerras anteriores. Só teremos que passar por esta dor se não ficarmos em casa!

Coloquem na balança. O governo já aprovou uma pacote de medidas onde pagará alguma coisa para nós. Pode não ser a melhor solução de todas, mas já é alguma coisa. Reflitam sobre pedir o fim do isolamento. Vale à pena estarmos como a Itália em um mês? Neste momento, meus caros leitores, somente a fé não adianta. O brasileiro tem muito de pensar "não vai acontecer nada não", mas infelizmente a realidade é que, adivinhem: nós somos humanos igual a todos aqueles que estão morrendo em outros países. Desta vez, temos que, além da fé, fazer por onde.

Defender o fim do isolamento social devia vir com uma pergunta: Está ciente dos riscos da sua escolha? Abriria mão de aparelhos respiratórios caso se contamine? Acho que apenas esta reflexão já bastaria para acalmar os ânimos.

Quando pensar que não está fácil para você, lembre que não está fácil para ninguém. E que há pessoas em situações muito piores do que o isolamento social. Sabemos que existem vários problemas psicológicos que se manifestam neste momento, mas podemos também aproveitar o momento para curar a mente. Estamos em um período em que as vaidades não importam mais. Em que o dinheiro tem menos poder. Em que a beleza pouco faz diferença. Há vários canais de ajuda psicológica gratuitos on-line se abrindo. O momento é propício para a interiorização e para a aproximação com nossos semelhantes. É o momento de estarmos mais em família. Dos pais que não notam os filhos e dos filhos que não notam os pais. É o momento de nos encararmos e repensarmos como estávamos levando nossas vidas. É um momento de lembrarmos que somos todos iguais. E que todos estamos na mesma luta. Não há mais motivos para se comparar com o outro no Instagram porque agora nos lembramos que desta vida, nem o rico nem o pobre, não levarão nada.

È o momento de agradecermos estarmos tendo a oportunidade de viver mais um dia.

Texto e imagem reproduzidos do site: obviousmag.org

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