Publicado originalmente no site da revista PIAUÍ, em fevereiro
de 2020
Sexo, Drogas e mais Drogas
A pílula das mulheres e a dos homens
Por Thomas Hager
Centenas de milhares de mulheres já tomavam a pílula em
1960, quando ela foi finalmente aprovada nos Estados Unidos para o controle de
natalidade. O uso da droga disparou o mundo
Existem milhares de drogas disponíveis, mas só uma é
conhecida universalmente como “a pílula”. É uma droga estranha: não alivia
sintomas, como os analgésicos, nem salva vidas, como os antibióticos. O seu
desenvolvimento tem raízes tanto na pesquisa médica como no ativismo social, e
sua importância para a saúde não é nada perto do seu enorme impacto cultural. A
pílula revolucionou os hábitos sexuais, abriu uma vasta gama de oportunidades
para as mulheres e – como praticamente nenhum outro remédio conseguiu fazer –
mudou o nosso mundo.
Antes da pílula, os prazeres do sexo eram quase
inevitavelmente ligados à concepção. A criação da vida ainda era vista por
muitas pessoas como algo relacionado tanto à esfera divina quanto à medicina.
Isso não impediu que, ao longo da história, pessoas tentassem romper a ligação
entre fazer sexo e ter filhos. Na China antiga, as mulheres bebiam soluções de
chumbo e mercúrio para tentar impedir a gravidez. Na Grécia clássica, sementes
de romã eram usadas como anticoncepcional (prática associada à deusa Perséfone,
que comeu uma semente de romã quando estava aprisionada no submundo, o que a
obrigou a retornar ao Hades durante seis meses por ano, gerando os meses
inférteis do inverno). Mulheres europeias na Idade Média penduravam testículos
de doninha nas coxas, usavam grinaldas de ervas, amuletos de ossos de gatos;
experimentavam infusões e uguentos misturados com sangue menstrual; caminhavam
três vezes ao redor de um lugar onde uma loba grávida houvesse urinado – tudo
na esperança de impedir a gravidez. Não apenas porque a gravidez e o parto
fossem as principais causas de lesões e morte entre as jovens, ou porque a
gravidez fora do casamento fosse um pecado. Engravidar significava o fim da
independência, uma restrição de oportunidades e o começo da responsabilidade
doméstica que duraria a vida toda. Tudo que pudesse evitar isso, não importa
quão absurdo, valia a pena.
Texto e imagem reproduzidos do site: piaui.folha.uol.com.br
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