Visitantes da 25° Bienal do Livro de São Paulo
Publicado originalmente no site Brasil El País, em 15 de agosto de 2018
Qual é o limite das minhas capacidades intelectuais?
A resposta deve começar por explicar que existem três
fatores que estabelecem as limitações: a genética, o treinamento e o ambiente
Por Agnès Gruart *
Eis a grande pergunta. Mas, para respondê-la, precisamos
definir a que nos referimos quando falamos de capacidade intelectual. Seria a
capacidade de cada pessoa tomar decisões, pensar e aprender tanto uma atividade
motora como um conceito. Uma vez clara esta questão, a resposta sobre o limite
da capacidade intelectual, sua ou de qualquer um, deve começar por dizer que há
três fatores que estabelecem esses limites.
O primeiro seria a capacidade intelectual dada por sua
genética, pelo genoma que você herdou de seus antepassados. Essa carga genética
é diferente em cada pessoa. Depois haveria uma segunda parte que é o
treinamento, o exercício da capacidade intelectual. E o terceiro é o ambiente
onde a pessoa vive e que pode lhe permitir ou não desenvolver mais ou menos
tanto sua capacidade inata como o treinamento e a educação. Ou seja, você pode
ter uma enorme capacidade para aprender chinês, mas se jamais em sua vida for
exposta a essa língua, não a aprenderá.
Uma vez que temos claro que esses são os três limites, é
preciso explicar também que a combinação deles é o que tornará sua capacidade
intelectual maior ou menor. Por exemplo, pode haver alguém com não muita
capacidade inata, mas que esteja decidida a ampliar muito seu horizonte
intelectual – o que ela deve fazer é muito treinamento. Talvez essa seja a
chave que explica por que todos os esportistas, músicos ou qualquer um que seja
muito bom numa determinada tarefa é tão bom assim porque treina muito, além de
ter de saída uma grande capacidade inata, pois só tendo predisposição não
conseguiriam. Mas também é preciso deixar claro que o desenvolvimento de
algumas capacidades só com treinamento às vezes é complicado e não permitir
alcançar um grau de excelência enorme, embora sim melhorar muitíssimo. Também é
muito importante considerar o ambiente – certeza que lhe ocorrem nomes de
pessoas que se destacam em alguns aspectos simplesmente porque estão em um
ambiente muito propício.
Sim existe um limite à capacidade intelectual porque
geneticamente o temos
Há outro aspecto relacionado com a inteligência que é
fundamental na hora de avaliar a capacidade de uma pessoa: a tomada de
decisões. Isto quer dizer que também falamos de inteligência ou capacidade
intelectual naquela vertente em que uma pessoa tomaria uma determinada decisão
entre todas as que possa tomar. Aqui não estaríamos melhorando uma habilidade,
mas sim falando de uma pessoa inteligente no sentido de que toma a melhor
decisão. Podemos ver pessoas quase iletradas, como alguém que cuida um rebanho
e que toma muito boas decisões com relação a conseguir que este rebanho siga
adiante – isto seria um comportamento claramente inteligente, embora essa
pessoa provavelmente obtivesse maus resultados em uma prova que medisse outro
tipo de capacidade intelectual.
Assim resumindo, existe de fato um limite para a capacidade
intelectual, porque geneticamente o temos. Por exemplo, você poderia chegar a
falar muito bem um idioma porque foi exposta a ele e treinou muitíssimo, mas
ser incapaz de alcançar o nível fonético dos que são nativos do lugar, ou
inclusive do ponto de vista motor há movimentos que alguém poderia não
conseguir fazer. Também é preciso ter claro que se uma pessoa trabalhar duro
pode reduzir, e até muito, essas limitações. Durante muito tempo parecia que
com a educação era possível conseguir tudo, e isso não é totalmente verdade.
Concluindo, há limites, mas também há uma grande variabilidade, e se as pessoas
trabalharem e não houver uma doença ou uma lesão, pode-se chegar a conseguir
muitíssimo.
*Agnès Gruart é
catedrática de Fisiologia da Universidade Pablo de Olavide, de Sevilha.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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