Publicado originalmente no site da revista Época Negócios, em 30/03/2018
Crianças devem ter inteligência digital", diz Yuhyun
Park
Formada na Universidade Harvard e presidente
de um instituto de educação digital, o DQ Institute,
a cientista defende que os pequenos devem aprender
desde cedo a serem bons "cidadãos online"
Por Estadão Conteúdo
A coreana Yuhyun Park quer ensinar crianças a ter
inteligência digital para se tornarem boas "cidadãs online". Isso
quer dizer não praticar ou se expor a violências, como o bullying digital, ter
autocontrole para não se viciar no uso de celulares e agir com responsabilidade
nas redes sociais. Para ela, cientista formada na Universidade Harvard e
presidente de um instituto de educação digital, o DQ Institute, essas
competências deveriam estar nos currículos das escolas de todos os países.
Yuhyun, de 42 anos, hoje vive em Cingapura, onde o governo
já adotou sua plataforma educacional online para formar alunos, professores e
famílias. "Muitos pais falam que a criança não pode usar o celular mais de
uma hora, por exemplo, mas não é só isso o importante", explica.
"Eles precisam dizer como isso afeta a saúde e a vida toda dela. A mesma
conversa que temos sobre os perigos offline, temos de ter sobre os perigos
online."
As pesquisas do seu instituto mostram que mais de 50% das
crianças de 8 a 12 anos no mundo estão expostas aos chamados riscos do mundo
digital, como exposição à pornografia, a conteúdos violentos ou vício em jogos.
E quando elas têm o seu próprio celular e passam a usar redes sociais de
maneira ativa, o risco aumenta em 20%.
"Precisamos dar às crianças a informação certa para que
se tornem pessoas críticas, independentes. Não conseguimos estar online com
nossos filhos o tempo todo." Ela esteve no Brasil este mês para falar no
Fórum Econômico Mundial.
O que é a inteligência digital e como desenvolvê-la na
criança?
Quando as pessoas pensam em tecnologia, pensam nas questões
do trabalho, como codificação, robótica, mas antes as crianças precisam
aprender a ser cidadãs digitais. A inteligência digital são as competências que
as crianças têm de ter para isso. Com nossa ferramenta educacional, ensinamos,
de modo bem científico, sobre como limitar o tempo na frente das telas, dizendo
como afeta seu cérebro, seu corpo ou habilidades cognitivas. Falamos sobre
bullying, em como se proteger das armadilhas. E ainda o que significa estar
online. As crianças precisam saber que quando colocam algo na internet, aquilo
pode permanecer lá para sempre. E qual o impacto disso no futuro delas? É como
o cigarro, se aprendem o quão prejudicial é, não fazem.
As escolas deveriam ensinar essas competências?
Acredito muito que isso tem de estar no currículo de um
país. Cingapura já fez isso. Nossas pesquisas mostram que 50% das crianças
ganham seu primeiro celular aos 10 anos, por isso temos de intervir antes
disso. A idade mais importante é entre 8 e 12 anos porque conseguimos formá-los
antes de estarem online de uma maneira muito ativa. É como uma vacina, tem de
ser dada antes de ser exposto.
Suas pesquisas indicam que existe uma pandemia de riscos
digitais. Por quê?
Hoje mais de 50% das crianças estão expostas a riscos do
mundo digital. Estão fazendo coisas que as deixam vulneráveis para encontrar
estranhos, ver pornografia, ficar viciadas em jogos. Muita gente acha que é uma
questão cultural, mas não. O padrão é igual em todos os países. E a maioria
delas não faz busca ativa por conteúdo inapropriado - a informação aparece para
elas.
Como os pais devem agir?
A tecnologia mudou tão rápido que não estamos preparados
como pais, como geração. Pais com 40 anos tiveram seu primeiro celular aos 20.
É um mundo completamente diferente. É preciso começar a conversar cedo porque
quando se tornam adolescentes é mais difícil. Muitos pais falam que a criança
não pode usar mais de uma hora o celular, por exemplo, mas não é só isso que é
importante. Eles precisam dizer como isso afeta a saúde e a vida toda dela.
Você está mandando seu filho para um lugar muito perigoso, um clique e tem
acesso a pornografia. Então, a mesma conversa que temos sobre os perigos
offline, devemos ter sobre os perigos online. Precisamos dar às crianças a
informação certa para que se tornem pessoas críticas, independentes. Nós não
conseguimos estar online com nossos filhos o tempo todo.
Mas muitas vezes é difícil tirar o celular das crianças.
Sim, porque ele é desenhado para tornar as crianças
viciadas. Ele dá uma resposta rápida e elas gostam disso. Os jogos são
desenhados para isso. E se elas se acostumam a isso, sentem-se entediadas com
todo o resto. Por isso, os pais precisam falar com as crianças sobre a vida
digital.
Crianças podem usar redes sociais?
Não nesse grupo de 8 a 12 anos. Não há benefício algum.
Ficam mais expostas a pressões porque não têm um autocontrole desenvolvido.
Elas precisam aprender como atuar na rede social, sobre privacidade e o que é
estar online. As crianças são puras, se as pessoas fazem uma pergunta a elas,
querem ser legais, dar toda a informação possível. E nós vamos soltar nossas
crianças nesse mundo sem nenhuma proteção?
Texto e imagem reproduzidos do site: epocanegocios.globo.com
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