Legenda da foto: Neuralink, chip neural do polêmico Elon Musk: que não seja apenas devaneios de um louco.
Publicação compartilhada do site JL POLÍTICA, de 25 de setembro de 2023
As maravilhas tecnológicas da mente: o cérebro revelado.
Por Déborah Pimentel*
“A única coisa que podemos ter certeza é a incerteza” (Zygmunt Bauman).
“Penso, logo existo” (Descartes).
Nossa evolução tecno-científica é absolutamente incrível. Se liga nessa: o cérebro, aquele amontoado misterioso na nossa cabeça, tem só 2% do nosso peso, mas usa 20% da nossa energia!
Um pedacinho dele, do tamanho de um grãozinho de areia, pode guardar tanta informação quanto todos os filmes já feitos ou mais de um bilhão de livros! Isso é realmente incrível.
Agora o mais louco: nosso cérebro nunca viu o mundo. Ele está lá, no escurinho, só recebendo sinais elétricos. Parece doido, não é? Mas é assim que funciona.
Nos últimos 10 anos, cientistas da Europa resolveram tentar entender melhor essa maravilha, e lançaram o “Human Brain Project”. Eles investiram uma grana pesada, tipo U$ 3,2 bilhões, e colocaram mais de 500 pesquisadores para mapear o cérebro.
E não é que conseguiram descobertas incríveis? Tem até um atlas virtual que mostra 200 regiões do cérebro. Mas olha: nem tudo foram flores.
O projeto teve seus altos e baixos, conflitos e desafios. Por exemplo: ainda não sabem direitinho como o cérebro funciona. Como que uma atividade química ali dentro gera pensamentos? Mistério!
O cérebro é tão complexo que tem uns 86 bilhões de neurônios e mais conexões do que estrelas na nossa galáxia.
Ele está sempre mudando e se adaptando. E o mais louco: cada cérebro é único.
Mas também tem aspectos preocupantes, pois as mídias eletrônicas estão assumindo um papel perigoso nas nossas vidas, como se fossem extensões da capacidade cognitiva, quase um apêndice. Uma extensão do cérebro.
A internet estabeleceu um novo jeito de comunicação e de informação que não sabemos se ajuda ou atrapalha. Ou seja, o homem perdeu a capacidade de focar em um só assunto, tornando a mente caótica e prejudicando as funções do cérebro.
Ao mesmo tempo que as mídias trazem novas informações, expandindo nossa área de conhecimento, individualmente nos emburrece, nos limitando.
Quer ver um exemplo disso, caro leitor, basta que eu lhe pergunte qual o número do celular do seu filho. Provavelmente você não sabe. E sabe por quê? Porque está gravado no seu telefone.
E se eu lhe perguntar como você chega em algum ponto da cidade, talvez você não saiba também. Eu particularmente uso o aplicativo Waze, mesmo quando estou dentro de Aracaju, uma minúscula capital onde me criei e vivi praticamente a minha vida inteira. Tudo isso é consequência das facilidades eletrônicas.
Você não se dá conta, mas perdeu até o hábito da leitura, porque facilmente perde a paciência com textos muito longos e rapidamente se desinteressa.
Meu pai, Nazário Pimentel, toda semana me alerta sobre isso. “Seus textos, Déborah, são longos demais para os tempos corridos e modernos. O leitor tem preguiça de ler muitas palavrinhas amontoadas”. O problema é que sou prolixa. Mas estou me esforçando muito.
E até para fazer cálculos simples, você percebeu que está usando muito a calculadora do celular? Será que você se identifica com estas situações?
E a memória? Ah, essa foi embora... não lembra sequer dos monumentos e das praças da cidade que visitou na última viagem que recentemente fez.
Sabe o que alguns alegam? Para que vou gastar meus neurônios se as fotos publicadas no Instagram contam a minha história? Parece que as respostas e informações estão permanentemente atreladas às mídias eletrônicas.
Está na hora de nos preocuparmos com a memória de curto prazo ou de fixação, que está se esvaindo, pois você não consegue armazenar muita coisa e ela é inclusive a nossa memória de trabalho, que pode estar sendo severamente prejudicada.
Mas ainda há os que dizem que temos de proteger o nosso cérebro dessas coisas. Afinal, ele é a sede, ou morada, da nossa mente.
No meio de tantas descobertas, tem gente preocupada com algumas inovações tecnológicas, tipo conectar nosso cérebro na internet. Imagina isso?
Pois é, trata-se do polêmico Elon Musk, que criou o projeto Neuralink. Trata-se de uma empresa que está desenvolvendo um chip cerebral conhecido como Link, que será capaz de registrar a atividade neural e estimular regiões específicas do cérebro para ajudar pacientes com deficiência a se mover e se comunicar novamente, restaurar a visão e comunicar-se diretamente com smartphones e computadores, utilizando apenas o poder do pensamento.
Tudo parece muito genial e louco também. O tal chip neural é inserido no cérebro e se expande para diferentes áreas por meio de milhares de minúsculos eletrodos.
Ah, este procedimento cirúrgico será realizado por um robô desenvolvido para isso. Vocês conseguem imaginar um robô usando um jaleco branco?
Estes eletrodos implantados estarão aptos a ler os sinais químicos elétricos enviados por nossos neurônios enquanto eles comunicam-se entre si.
As informações coletadas são interpretadas por meio de algoritmos através de softwares de inteligência artificial e transmitidos por um telefone ou computador.
Musk divulgou que dois dos aplicativos da Neuralink irão ter potencial para restabelecer a visão e um outro se concentrará no córtex motor, restaurando a “funcionalidade total do corpo” para pessoas com medula espinhal danificada, por exemplo.
Tomara que não sejam apenas devaneios de um louco. Quero ainda estar por aqui para ver toda esta evolução. No fim das contas, o que sabemos é que nosso cérebro é incrível e ainda uma incógnita.
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Articulista Déborah Pimentel - É médica, pesquisadora da saúde mental e psicanalista.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br/articulista
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