Artigo e três comentários compartilhados do Facebook/Antonio Samarone, de 26 de agosto de 2023
A vida é um milagre.
Por Antonio Samarone*
Acho a dúvida se milagres existem, uma bobagem. Tudo é milagre.
As versões científicas sobre a origem da vida são ficções mal arrumadas.
A coisa se agrava, quando a ciência procura explicar o surgimento da consciência. Quanto maior a objetividade da tese, maior a ilusão.
Estou convencido que o sagrado é parte inerente da consciência. Não são apenas fenômenos físico-químicos. A transcendência é um fenômeno real. Por outro lado, a consciência é um fenômeno do conjunto da vida, a sua parte divina. O ego é apenas um subproduto da consciência.
Pode se chegar a uma consciência ampliada, por vários caminhos.
Os gregos, iniciados nos Mistérios de Elêusis, usavam uma substância natural produzida pelo fungo ergot, presente na cevada da região.
Em 1938, Albert Hoffmann, um químico suíço da Sandoz, tentando sintetizar essa substância dos gregos em laboratório, descobriu o LSD (dietilamida do ácido lisérgico). A mais poderosa substância psicodélica.
Para evitar mal-entendidos e confusões com os psicotrópicos, os psicodélicos são substâncias que alteram a consciência por longa duração, não causam dependência e permitem viagens a regiões desconhecidas da mente. Fixam a consciência no tempo presente, unifica as polaridades, coletiviza as percepções e supera o domínio do ego e amplia a consciência.
A consciência ampliada percebe parte da hierarquia da vida. Das bactérias, insetos, fungos, seres humanos, anjos e deuses.
O que chamamos de consciência é uma percepção fragmentada e parcial da realidade.
A consciência ampliada é parte da energia cósmica eterna, princípio sagrado e divindade interna. É o Nivarna dos orientais. Um estado de beatitude e felicidade, onde a morte perde o sentido.
O uso orientado dos psicodélicos pode permitir essa experiência da consciência ampliada. Nasce um profundo sentimento de gratidão pela vida. Apesar da tragédia e do sofrimento, o universo está em ordem.
Relendo os Mistérios de Elêusis, de Mircea Eliade, entendi a profunda impressão que tive ao ver pela primeira vez uma foto da terra inteira vista do espaço. Era aquilo, tão pequenina, o habitat da humanidade.
A consciência ampliada permite enxergar o sentido de uma formulação aparente tola dos católicos: “Deus é amor.”
Quem tiver curiosidade nessas experiências com o uso dos psicodélicos, vale a pena a leitura de “As Portas da Percepção”, obra do escritor inglês Aldous Huxley.
Hoje vivemos uma profunda dissociação da nossa espécie com o restante da natureza.
Os psicodélicos mais conhecidos são o LSD, mescalina, psilocibina e a nossa ayahuasca, do Santo Daime.
Não se sabe como os psicodélicos funcionam. Acredita-se que eles reiniciem o cérebro, alterando os níveis de neurotransmissores, permitindo experiências místicas e novos modos de se pensar. Quando usados por pacientes terminais, aliviam a ansiedade existencial.
Perdi um grande amigo, ainda novo, com uma grave doença neurodegenerativa. Um comunista dos antigos, devoto da materialismo histórico, que não tinha a quem recorrer com a proximidade da morte. Tentei encaminhá-lo para os grupos de pesquisa americanos sobre o uso dos psicodélicos, como forma de criar experiências místicas e reduzir a sua ansiedade diante da morte.
Não houve tempo, ele morreu antes, numa viagem que fez a Belo Horizonte.
Francis Crick, Prêmio Nobel em medicina (1962), próximo a morte, informou ter descoberta a dupla hélice do DNA. Durante uma viagem com o uso do LSD.
Nas depressões se retorna patologicamente ao passado, nas ansiedades se antecipa compulsoriamente o futuro. Os psicodélicos lentificam o tempo, torna-o mais lento. Claro, com grande impacto na economia. Talvez o principal motivo das proibições.
Suponho que muita gente não entendeu quase nada, ou entendeu quase tudo por outros vieses. Entretanto, esse é um tema que atrai a minha curiosidade.
* Antonio Samarone é Médico sanitarista.
3 comentários abaixo:
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Comentário de Edu Oliveira
Oxalá ampliemos nossa consciência, naturalmente, para percebermos que Deus é amor na sua plenitude.
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Comentário de Carlos Roberto De Assis Carlinhos
É complicado mesmo... E, a gente sendo leigo no assunto, mesmo tendo estudado um pouco de psicologia, fica dificil de entender a mente humana, até porque, cada um é cada um...
Acho que ainda se passa uns 10.000 anos até se desvendar alguns mistérios da mente. É muito cedo. O homo habilis surigiu entre 1,5 e 2,5 milhões de anos e, o moderno a aproximadamente, 300.000 anos. Então, pelo desenvolvimento da ciência, dez mil anos é um prazo razoável para se estudar e mapear a mente. A não ser, lógico, se houver um "salto triplo" no conhecimento humano, o que não se pode descartar. Tivemos entre o século 19 e 20 uma evolução científica que valeu por toda existência.
É isso. Me empolguei demais e saiu textão. Mas, é como penso, parodiando os ministros do STF, "... é como voto". Um abraço, Samarone .
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Comentário de Francisco Santana
É usual, na imunologia, a utilização dos termos “self” e "non-self" para se referir à capacidade do organismo em identificar o que lhe é próprio e não próprio e, a partir daí, desencadear uma reação imunológica. E isso só é possível porque, no nível de um simples organismo, tudo está intensamente ligado e interligado.
Eu sou de opinião que este mecanismo verificado nos organismos, e que é propulsor de simplórias ou severas reações orgânicas, se reproduz em escala universal, ou seja, tudo está intensamente ligado e interligado não só internamente, na terra, mas externamente, na imensidão do universo.
Assim, chamar de milagre o que não conseguimos explicar foi uma excelente sacada do animal humano. Milagre, que por sinal, está intrinsecamente ligado ao componente religião. Não faço ideia do que seria da humanidade se, em algum momento da existência, não tivesse inventado os Deuses e as religiões. Provavelmente o homem haveria sucumbido em meio a tanto sofrimento! Os Deuses e as religiões são, ao mesmo tempo, balsamos e estimulantes.
Fato é que, retomando os termos "self" e "non-self", é possível buscar um apoio na expressão "Efeito Borboleta" que foi utilizada na Teoria do Caos para referenciar a sensibilidade nas condições iniciais, que são marcantes nos sistemas caóticos. A expressão Efeito Borboleta foi utilizada para argumentar acerca da sensibilidade dos fenômenos meteriológicos.
O universo precisou de vários milhoes de anos para tornar a terra adequada ao milagre da vida e o ser humano precisou de menos de 200 anos para estragar tudo e colocar em risco a própria existência.
Artigo, imagem e comentários reproduzidos do Facebook/Antonio Samarone.
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