Publicado originalmente no site da revista TRIP, em 29 de outubro de 2021
Wagner Moura: Nossa História é misógina, elitista e golpista
Trip FM
O ator e diretor baiano fala sobre a estreia de Marighella, cinema, política, axé e Bolsonaro: ”A gente vai levar um tempo para reconstruir o que este governo fez”
Por Redação
Apesar de comemorar a autonomia conquistada pelos três filhos durante esse hiato fora, o ator não se vê como um intérprete de traços internacionais. "Embora eu realmente more onde estou trabalhando, de fato sou muito conectado com a minha origem, sobretudo com a Bahia. Eu sou um ator especial para os EUA justamente porque vim de Salvador. O meu axé está aí", diz.
Em entrevista para o Trip FM, Wagner Moura fala ainda de emagrecimento, da educação dos filhos, dos amigos Lázaro Ramos e Vladimir Brichta, de jiu-jitsu e mais. Ouça o programa no Spotify, no play nesta reportagem ou leia um trecho da entrevista a seguir.
Trip. Você me contou que mora onde estiver trabalhando. Isso deve ser muito legal, mas é também muito difícil para criar raízes. Ao mesmo tempo, a cidade de Rodelas, onde você cresceu, no sertão da Bahia, desapareceu com a represa de Itaparica. Me fala sobre a sua relação com a casa, com a cidade?
Wagner Moura. Embora eu realmente more onde estou trabalhando e a experiência de ter passado esse tempo na Colômbia e em Los Angeles tenham sido muito boas, porque meus filhos ganharam muita autonomia, eu de fato sou muito conectado com a minha origem, sobretudo com a Bahia. Eu sou um ator especial para os EUA justamente porque vim de Salvador. O meu axé está aí. "Marighella" é um filme que sintetiza muito a minha relação artística com o cinema e com o país; é um filme profundamente brasileiro. Onde quer que eu esteja, estou absolutamente conectado com o que está acontecendo com Brasil, o que gera sentimentos díspares: quando Marielle [Franco] morreu, por exemplo, eu sofri muito por não estar no Rio de Janeiro para quebrar alguma coisa. Eu tenho uma tatuagem de uma árvore no braço que é uma árvore de Rodelas. Uma imagem muito forte: antes da represa, ela foi arrancada com raiz e tudo e replantada em Nova Rodelas, onde vivi um tempo também.
Você é um dos artistas que mais tem se posicionado contra esse governo. Como é esse lado de ser uma voz ativa em um momento do país em que a gente retrocedeu demais? Se a eleição de Bolsonaro é trágica, é também pedagógica. Ele não é um alienígena, mas um personagem profundamente conectado com o que há de pior na história do Brasil. Nossa história é misógina, elitista, golpista, racista e violenta. Depois do fim da ditadura, os governos que vieram nos deram uma certa segurança democrática que nos fez camuflar esse esgoto subterrâneo do qual Bolsonaro emerge. O fato de ele ter sido eleito é muito pedagógico para que enfrentemos esse Brasil de frente. Se algo de terrível não acontecer, ele vai ser derrotado nas eleições. Esses atos de violência à cultura, ao meio-ambiente, ao STF, vão passar.
Sobre o cuidado do corpo, especificamente com a alimentação, me conte o que você tem feito. Não sei se é a imagem do Pablo Escobar que ficou na minha cabeça, mas você parece mais magro. Eu me estraguei para fazer "Narcos", precisei engordar. Nunca cuidei muito da minha saúde, mas quando eu fiz o Escobar foi terrível porque fui comendo porcaria sem orientação alimentar nenhuma. Me prejudicou: tive um descolamento de retina, meus exames ficaram alterados. Depois disso precisei tomar uma atitude radical para reverter aquela situação. Fiquei um tempo muito grande sendo vegano, o que foi muito bom, mas não consegui sustentar. Hoje como peixe e ovo também.
Texto e imagem reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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