BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 20 de junho de 2021
Que tal lançar uma consultoria de 'soft skills' com garotas
de programa?
Hoje se fala muito em ensinar respeito à diversidade, mas
que profissionais praticam mais a tolerância do que elas? Luiz Felipe Pondé via
FSP:
O mundo corporativo sempre fala coisas como "pensar
fora da caixa", "inovação", "disrupção", "soft
skills". Claro, é tudo meio embromação, porque se você pensar mesmo
"fora da caixa", estará na rua antes de chegar aos 50 —quando estará
de fato na rua.
Queria fazer uma proposta "fora da caixa" para o
mercado de consultoria. Fala-se muito em ensinar respeito à diversidade,
tolerância, "soft skills", e toda uma gama de valores que seriam
fundamentais no novo mundo lindo que estamos construindo pelas mãos do marketing
de causas.
Que tal lançar as garotas de programa como consultoras de
negócios e comportamento? Fala a verdade, existe profissional que pratica mais
a tolerância? A casa onde elas trabalham não era chamada, por nossos
ancestrais, que entendiam das coisas muito mais do que nós, de casa de
tolerância? Por que será? Pense, e se não encontrar a resposta, procure no
Google.
Não me refiro a Madalenas arrependidas, nem a profissionais
do sexo que dizem por aí que são oprimidas. Refiro-me às profissionais que são
bem-sucedidas na carreira. Enfim, as que gostam do que fazem
Tampouco me refiro à ideia de que estas jamais sonhariam em
ter família e filhos. Hoje não estou a fim do blá-blá-blá —aliás, nunca estou.
A profissão mais velha do mundo —a segunda, segundo o grande
Paulo Francis, seria o jornalismo— tem a consistência da permanência, expressão
que está na moda entre inteligentinhos que identificam Bernie Sanders como
exemplo.
De onde vem essa consistência da permanência no caso das
garotas de programa? Salvam casamentos? Diminuem o estresse? Aliviam a solidão?
Elogiam infelizes e brochas? Acolhem o choro envergonhado? E tudo por um preço
fixo sem taxas e impostos. Conhece algum negócio mais reto?
Imagino que minha ideia não seria tão bem recebida no meio
corporativo. As colaboradoras, fora as que curtem as meninas, provavelmente
diriam que é machismo, patriarcalismo, assédio, enfim, usariam todas as
palavras da moda que existem para cortar o barato do pensamento público.
Imaginem o que elas poderiam nos ensinar sobre a microfísica
do poder e da corrupção no país e no mundo? Alguém imagina algum método mais
seguro de garantir a corrupção do que o investimento nas velhas obsessões
humanas? Muito mais "soft" do que chantagens, e com pitadas de enorme
prazer.
Você acha que uma CPI resistiria aos depoimentos dessas
meninas? Só o charme delas deixaria os senadores-consumidores de quatro,
embebecidos pela beleza candidata a salvar o mundo.
Nada como uma prática que atravessa a geografia, a história,
a filosofia, a religião, a política e mesmo as ciências. Em meio à peste,
pessoas se arriscam por breves momentos na companhia dessas sacerdotisas da
natureza humana.
Dezenas de artigos seriam escritos contra a proposta, quem
sabe até manifestações na avenida Paulista a favor da liberdade sexual e contra
aquelas que a praticam há milênios. Essas garotas são a prova de que a
hipocrisia é a substância da moral pública.
As revoluções industriais, a inteligência artificial, enfim,
toda e qualquer inovação ou disrupção cai de joelhos diante de tamanho fato
sociológico, inegável.
Querem uma inovação mais radical nos currículos de
humanidades em todas as faculdades do mundo?
Uma disciplina ensinada por elas cujo título seria Ética da
Tolerância e cuja ementa seria "o mercado do sexo garante práticas
ancestrais, 'soft skills' e inovações comportamentais que resistem as crises de
mercado e geram sucesso em todos os ecossistemas de negócios".
Até as guerras se dobram à mais velha profissão do mundo:
essas profissionais são espiãs dos dois lados, salvam vidas, denunciam
criminosos.
Mesmo as religiões têm um lugar guardado para elas. Não é à
toa que o ancestral poema das aventuras de Gilgamesh, da Mesopotâmia, dá a elas
um papel formador na vida dos grandes líderes quando jovens.
Essas garotas são a prova cabal de que a vida das paixões
tem um lugar especial no coração dos sentimentos morais, sejam eles alegres ou
tristes.
Boa semana e lembre que ainda existe alguém que tolera você
no mundo. Quem for puro de pecado, que atire a primeira pedra.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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