Publicado originalmente no site HUFFPOST BRASIL, em 17 de agosto
de 2020
O autocuidado é essencial para quem luta por transformações
sociais. Veja por quê.
Veja como evitar o esgotamento e conservar seu bem-estar
mental em tempos de resistência.
Por Angela Hui
Lutar por transformações sociais não é fácil. Não existe uma
vitória ou solução imediata. Recentemente, milhares de ativistas em todo o
mundo participaram de protestos contra o racismo, manifestando sua
solidariedade com os protestos do movimento Black Lives Matter nos Estados
Unidos.
Isso nos abriu a oportunidade de termos discussões
necessárias sobre a brutalidade policial, sobre o que significa ser
antirracista, nossa responsabilidade de combater o racismo institucional e
nosso trabalho em prol da igualdade.
Em meio a esse sentimento de revolta, a voz de outro grupo
marginalizado se elevou depois de JK Rowling atrair críticas por seus
comentários sobre questões ligadas às pessoas trans.
Essas lutas são essenciais. Elas chamam a atenção para as
dificuldades enfrentadas pelas minorias. Mas elas demandam energia. Promover
transformações sociais leva tempo – não é algo que possa ser feito em questão
de dias. E manter essa energia fluindo constantemente pode ser difícil, tanto
para quem está no centro da luta quanto para as pessoas que querem entender
suas experiências de vida e lhes dar apoio.
É importante continuar se cuidando enquanto você está
absorvendo informações e se engajando em promover transformações. “Sem
autocuidado adequado, as pessoas correm o risco de um esgotamento total”, disse
o psicoterapeuta e coach de vida Isaac Maweu.
“O cérebro é o órgão mais vital do corpo. Ele está sendo
esgotado mais pelo que as pessoas estão fazendo, apesar de a causa ser justa.”
Maweu diz que, se não cuidarmos de nós mesmos, é grande o
risco de projetarmos a ira que estamos sentindo sobre outras pessoas em nossa
vida. “Em tudo o que fazemos, precisamos ter consciência de como isso isso nos
afeta no longo prazo”, ele explica.
Então o que devemos fazer para ficar bem?
Aprenda a perceber quando seu cérebro precisa de um descanso
Quer você esteja frustrado, indignado ou sobrecarregado, é
compreensível que esteja passando por uma montanha-russa emocional este
momento. Defina e respeite seus próprios limites.
“Quando você se sente esgotado, significa que é hora de se
recarregar. E isso só será possível se você estiver acessando sua caixa de
ferramentas de saúde mental e autocuidado”, explica Grace Victory, fundadora do
site How to Heal Holistically. “Para dar vazão às suas emoções, você pode
chorar, fazer exercício físico, sair para a natureza. As emoções reprimidas se
manifestam no corpo, podendo provocar mais sofrimento. Portanto, medite, crie e
encontre alegria.
“O momento atual é de aprendizado, mas também é
tremendamente traumático e exaustivo”, afirma.
Se você não o fizer, a exaustão profunda e pesada pode lhe
acometer, e isso pode fazê-lo se retrair para dentro de si mesmo quando tudo
ficar demais. “Procure afastar sua atenção dos conteúdos que você digere
online”, recomenda Cassandra Corrado, responsável pela conta de Instagram
Feminist Sex Ed. Ela criou conteúdo sobre como descansar e se recuperar durante
este momento.
“A realidade é que, se você deixar seu telefone de lado por
duas horas, a informação ainda estará lá”, explica. “A estimulação excessiva
pode deixar você irrequieta ou tensa. Recue alguns passos e pense ‘ok, o que eu
preciso fazer nestes próximos 15 minutos para me cuidar?’ No meu caso, descobri
que fazer um diário e praticar exercícios de respiração são métodos úteis.”
Entenda seus limites com as redes sociais
Você pode ter se envolvido numa discussão no Twitter ou
postado um quadrado preto no Instagram – e então pensar “e agora, o que faço?”.
Muitas pessoas sentem a necessidade de fazer mais. Mas faça o que puder fazer
agora, dando o melhor de si.
“Um sentimento de impotência pode ter efeitos negativos
sobre nossa saúde mental como um todo, nos fazendo sentir que não temos
autonomia”, explica Corrado. “Algumas pessoas pensam: ‘Não adianta eu fazer
nada, porque não tenho poder nenhum e por isso, em última análise, sou inútil
para este movimento’. Temos a tendência a entrar em um ciclo de pensar que
precisamos estar processando muita informação o tempo todo, como maneira de nos
conservarmos em segurança.”
“Um sentimento de impotência pode ter efeitos negativos
sobre nossa saúde mental como um todo”
É muito bom estar sempre a par dos últimos acontecimentos e
ter sede de saber mais, mas é sabido que ficar conectado o tempo inteiro gera
estresse. Se for difícil resistir à ânsia de acompanhar tudo online, desligue
as notificações e limite o tempo que você passa lendo ou assistindo ao
noticiário.
“Faça pausas regulares, dando um tempo das redes sociais,
para que sua cabeça consiga processar a informação que você está ingerindo”,
sugere Victory. “Procure seguir uma rotina regular de sono. Desligue todos os
aparelhos tecnológicos uma hora antes de se deitar. Pela manhã, reserve uma
hora para ficar com você mesma antes de mergulhar no mundo online.”
Sempre priorize o repouso e a alimentação
Repousar e recarregar-se começa de dentro. Quando você se dá
uma boa base, vai estar em melhores condições de encarar o que o dia vai lhe
trazer. Precisamos de energia para nos mostrarmos a todos à nossa volta como a
melhor versão de nós mesmos. Isso requer priorizar incansavelmente nosso
repouso e alimentação.
“Concentre-se em ingerir os alimentos certos e priorize o
tempo dedicado a você mesmo”, recomenda a blogueira Ngoni Chikwenengere, que
trata de moda, alimentação e comportamento. “O autocuidado não recebe a atenção
que merece. Eu tenho passado muito tempo durante a quarentena malhando, fazendo
uma alimentação correta, dormindo mais e procurando me conservar fisicamente
bem, porque isso impacta todo o resto.”
Se você implementar pequenas alterações na sua vida para
criar hábitos saudáveis, elas acabarão virando parte de sua rotina. “Converta o
autocuidado em uma rotina. O autocuidado requer tempo, mas transmite à sua
cabeça a mensagem de que agora é hora do descanso”, diz Chikwenengere.
“Faça uma lista das coisas que você quer experimentar. Opte
por alternativas saudáveis em casa, use um spray sonífero ou faça exercício
físico para purificar sua mente.”
Saiba que suas ações têm importância, por pequenas que sejam
Dar-se tempo para se reenergizar lhe ajudará a pensar
produtivamente sobre o movimento e sobre o que você pode fazer para contribuir
para transformações. Agora é hora de refletir sobre como você pode converter
seus sentimentos em ações.
Reconheça e entenda que mudanças pequenas podem, sim, fazer
diferença grande. Desde encarar conversas difíceis até educar outras pessoas,
pode ser um processo desafiador, mas é absolutamente necessário.
“Cada um de nós pode fazer alguma coisa”
“Cada um de nós pode fazer alguma coisa”, diz Celine Erorh,
fundadora da Celutions, uma empresa social de saúde mental, e criadora de um
manual online de bem-estar e saúde mental. “Compartilhe informações com quem
você conhece, doe, assine petições ou proteste se você quiser. Mas lembre-se de
se proteger, física e mentalmente.”
Se você não tiver certeza de como entrar em ação, use sua
plataforma para chamar a atenção para pessoas marginalizadas e sua experiência
de vida, que pode ter ficado oculta do mainstream. “Preste atenção e crie
espaço para pessoas negras serem ouvidas”, recomenda Victory. “Ouça-as quando
elas gritam, choram ou desabafam.”
“Para muitos de nós, é a primeira vez que nossas vozes estão
sendo ouvidas realmente. A gente subestima a importância de simplesmente
ouvir.”
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost UK e
traduzido do inglês.
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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