quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O autocuidado é essencial para quem luta por transformações sociais...


Publicado originalmente no site HUFFPOST BRASIL, em 17 de agosto de 2020

O autocuidado é essencial para quem luta por transformações sociais. Veja por quê.

Veja como evitar o esgotamento e conservar seu bem-estar mental em tempos de resistência.

Por Angela Hui

Lutar por transformações sociais não é fácil. Não existe uma vitória ou solução imediata. Recentemente, milhares de ativistas em todo o mundo participaram de protestos contra o racismo, manifestando sua solidariedade com os protestos do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos.

Isso nos abriu a oportunidade de termos discussões necessárias sobre a brutalidade policial, sobre o que significa ser antirracista, nossa responsabilidade de combater o racismo institucional e nosso trabalho em prol da igualdade.

Em meio a esse sentimento de revolta, a voz de outro grupo marginalizado se elevou depois de JK Rowling atrair críticas por seus comentários sobre questões ligadas às pessoas trans.

Essas lutas são essenciais. Elas chamam a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas minorias. Mas elas demandam energia. Promover transformações sociais leva tempo – não é algo que possa ser feito em questão de dias. E manter essa energia fluindo constantemente pode ser difícil, tanto para quem está no centro da luta quanto para as pessoas que querem entender suas experiências de vida e lhes dar apoio.

É importante continuar se cuidando enquanto você está absorvendo informações e se engajando em promover transformações. “Sem autocuidado adequado, as pessoas correm o risco de um esgotamento total”, disse o psicoterapeuta e coach de vida Isaac Maweu.

“O cérebro é o órgão mais vital do corpo. Ele está sendo esgotado mais pelo que as pessoas estão fazendo, apesar de a causa ser justa.”

Maweu diz que, se não cuidarmos de nós mesmos, é grande o risco de projetarmos a ira que estamos sentindo sobre outras pessoas em nossa vida. “Em tudo o que fazemos, precisamos ter consciência de como isso isso nos afeta no longo prazo”, ele explica.

Então o que devemos fazer para ficar bem?

Aprenda a perceber quando seu cérebro precisa de um descanso
Quer você esteja frustrado, indignado ou sobrecarregado, é compreensível que esteja passando por uma montanha-russa emocional este momento. Defina e respeite seus próprios limites.

“Quando você se sente esgotado, significa que é hora de se recarregar. E isso só será possível se você estiver acessando sua caixa de ferramentas de saúde mental e autocuidado”, explica Grace Victory, fundadora do site How to Heal Holistically. “Para dar vazão às suas emoções, você pode chorar, fazer exercício físico, sair para a natureza. As emoções reprimidas se manifestam no corpo, podendo provocar mais sofrimento. Portanto, medite, crie e encontre alegria.

“O momento atual é de aprendizado, mas também é tremendamente traumático e exaustivo”, afirma.

Se você não o fizer, a exaustão profunda e pesada pode lhe acometer, e isso pode fazê-lo se retrair para dentro de si mesmo quando tudo ficar demais. “Procure afastar sua atenção dos conteúdos que você digere online”, recomenda Cassandra Corrado, responsável pela conta de Instagram Feminist Sex Ed. Ela criou conteúdo sobre como descansar e se recuperar durante este momento.

“A realidade é que, se você deixar seu telefone de lado por duas horas, a informação ainda estará lá”, explica. “A estimulação excessiva pode deixar você irrequieta ou tensa. Recue alguns passos e pense ‘ok, o que eu preciso fazer nestes próximos 15 minutos para me cuidar?’ No meu caso, descobri que fazer um diário e praticar exercícios de respiração são métodos úteis.”

Entenda seus limites com as redes sociais

Você pode ter se envolvido numa discussão no Twitter ou postado um quadrado preto no Instagram – e então pensar “e agora, o que faço?”. Muitas pessoas sentem a necessidade de fazer mais. Mas faça o que puder fazer agora, dando o melhor de si.

“Um sentimento de impotência pode ter efeitos negativos sobre nossa saúde mental como um todo, nos fazendo sentir que não temos autonomia”, explica Corrado. “Algumas pessoas pensam: ‘Não adianta eu fazer nada, porque não tenho poder nenhum e por isso, em última análise, sou inútil para este movimento’. Temos a tendência a entrar em um ciclo de pensar que precisamos estar processando muita informação o tempo todo, como maneira de nos conservarmos em segurança.”

“Um sentimento de impotência pode ter efeitos negativos sobre nossa saúde mental como um todo”

É muito bom estar sempre a par dos últimos acontecimentos e ter sede de saber mais, mas é sabido que ficar conectado o tempo inteiro gera estresse. Se for difícil resistir à ânsia de acompanhar tudo online, desligue as notificações e limite o tempo que você passa lendo ou assistindo ao noticiário.

“Faça pausas regulares, dando um tempo das redes sociais, para que sua cabeça consiga processar a informação que você está ingerindo”, sugere Victory. “Procure seguir uma rotina regular de sono. Desligue todos os aparelhos tecnológicos uma hora antes de se deitar. Pela manhã, reserve uma hora para ficar com você mesma antes de mergulhar no mundo online.”


Sempre priorize o repouso e a alimentação

Repousar e recarregar-se começa de dentro. Quando você se dá uma boa base, vai estar em melhores condições de encarar o que o dia vai lhe trazer. Precisamos de energia para nos mostrarmos a todos à nossa volta como a melhor versão de nós mesmos. Isso requer priorizar incansavelmente nosso repouso e alimentação.

“Concentre-se em ingerir os alimentos certos e priorize o tempo dedicado a você mesmo”, recomenda a blogueira Ngoni Chikwenengere, que trata de moda, alimentação e comportamento. “O autocuidado não recebe a atenção que merece. Eu tenho passado muito tempo durante a quarentena malhando, fazendo uma alimentação correta, dormindo mais e procurando me conservar fisicamente bem, porque isso impacta todo o resto.”

Se você implementar pequenas alterações na sua vida para criar hábitos saudáveis, elas acabarão virando parte de sua rotina. “Converta o autocuidado em uma rotina. O autocuidado requer tempo, mas transmite à sua cabeça a mensagem de que agora é hora do descanso”, diz Chikwenengere.

“Faça uma lista das coisas que você quer experimentar. Opte por alternativas saudáveis em casa, use um spray sonífero ou faça exercício físico para purificar sua mente.”


Saiba que suas ações têm importância, por pequenas que sejam

Dar-se tempo para se reenergizar lhe ajudará a pensar produtivamente sobre o movimento e sobre o que você pode fazer para contribuir para transformações. Agora é hora de refletir sobre como você pode converter seus sentimentos em ações.

Reconheça e entenda que mudanças pequenas podem, sim, fazer diferença grande. Desde encarar conversas difíceis até educar outras pessoas, pode ser um processo desafiador, mas é absolutamente necessário.

“Cada um de nós pode fazer alguma coisa”

“Cada um de nós pode fazer alguma coisa”, diz Celine Erorh, fundadora da Celutions, uma empresa social de saúde mental, e criadora de um manual online de bem-estar e saúde mental. “Compartilhe informações com quem você conhece, doe, assine petições ou proteste se você quiser. Mas lembre-se de se proteger, física e mentalmente.”

Se você não tiver certeza de como entrar em ação, use sua plataforma para chamar a atenção para pessoas marginalizadas e sua experiência de vida, que pode ter ficado oculta do mainstream. “Preste atenção e crie espaço para pessoas negras serem ouvidas”, recomenda Victory. “Ouça-as quando elas gritam, choram ou desabafam.”

“Para muitos de nós, é a primeira vez que nossas vozes estão sendo ouvidas realmente. A gente subestima a importância de simplesmente ouvir.”

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost UK e traduzido do inglês.

Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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