Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 15 de julho de 2019
Como identificar os sabotadores da sua vida (mesmo se
estiverem camuflados)
Estas pessoas podem impedir o seu crescimento
Por Pilar Jericó
Crescer depende da nossa capacidade de nos afastar de quem
nos boicota e da nossa habilidade de alimentar as relações com que nos
incentiva.
Ter a capacidade de identificar e administrar os sabotadores
que nos cercam é uma das chaves mais importantes para nos sentirmos melhor
conosco mesmos. O neurologista Juan Fueyo sugere em seu livro Te Dirán Que Es
Imposible (Planeta, 2019, em espanhol, algo como "te dirão que é
impossível") as chaves para ter sucesso no que fazemos. Entre outras
coisas, ele fala da importância de sabermos nos cercar de ambientes onde
possamos crescer. Baseia-se nas biografias de pessoas bem-sucedidas como
cientistas, escritores e empresários, e também em sua própria vida. Não é para
menos: Fueyo é uma eminência mundial no campo da medicina. Esse asturiano e sua
esposa, Candelaria Gómez Manzano, trabalham no Centro Oncológico M. D. Anderson
da Universidade do Texas. Em 2003, desenvolveram um vírus modificado, ainda um
ensaio clínico, para combater um dos cânceres cerebrais mais agressivos. Fueyo
reconhece que ao longo de sua vida teve que ignorar muitas vezes quem lhe dizia
que era impossível fazer o que ele imaginava.
“Sabotador é uma palavra drástica”, observa Fueyo. Às vezes
é difícil imaginar que um amigo ou um familiar possa ser um sabotador, mas
acontece. Os sabotadores podem ser pessoas que desejam o melhor para nós, mas
seus medos são maiores que a confiança. O sabotador expressa sentimentos
negativos de maneira constante, às vezes de forma inconsciente: “Não dá”; “é
impossível”. São pessoas que incentivam você a permanecer em sua zona de
conforto e, claro, não expressam confiança nas possibilidades que alguém tem.
Um sabotador, no fundo, fala de si mesmo e de suas inseguranças. Em algumas
ocasiões, sobretudo se forem familiares, é sua forma de expressar carinho,
embora não estejam conscientes do preço que estão pagando.
Devemos diferenciar um sabotador de alguém que nos diz
coisas que não queremos escutar. No fundo, quem nos dá um feedback negativo nos
oferece um presente. Temos que discernir o que há por trás de suas dúvidas ou
de seus comentários: se é medo ou se é algo que não estamos vendo e que pode
nos ser útil para aprender. Existem várias estratégias para reduzir o impacto
dos sabotadores. Uma delas é afastar-se deles ou pôr seus comentários de
quarentena. Fueyo explica isso com uma experiência pessoal de quando era
adolescente. Gostava de escrever poesia, e um dia fez um experimento com alguns
de seus críticos. Passou-lhes uns versos pouco conhecidos do consagrado poeta
espanhol Miguel Hernández, dizendo que eram obra dele próprio, e que queria
saber a opinião dos conhecidos a respeito. Como imaginava, os comentários foram
desoladores. Aquilo lhe permitiu perceber que muitas vezes os sabotadores não
criticam uma obra, eles expressam seu medo, seu mal-estar ou seu preconceito,
independentemente do que seja.
Se tivermos sabotadores em nossa vida, talvez um colega de
trabalho, nosso chefe ou algum amigo, é melhor se afastar dele. Se forem
familiares ou pessoas que não podemos evitar, então é preciso deixar seus
comentários em quarentena ou olhá-los com compaixão: falam do seu próprio medo.
Outra estratégia consiste em compensar o impacto dos sabotadores com
incentivadores, pessoas que lhe ajudarão a chegar mais longe graças ao seu
otimismo, aos seus conselhos e, inclusive, aos seus feedbacks negativos, que
lhe farão crescer mesmo que você não goste de ouvi-los. Estas pessoas enxergam
a campeã ou campeão que temos dentro de nós, ressalta Fueyo. Por isso vale a
pena cuidar e cultivar o relacionamento, dedicar tempo a essas pessoas e na
medida do possível agir de maneira recíproca.
Como revela Fueyo, “o coletivo é mais inteligente que o
indivíduo, e a osmose social define o que você tem e quem você é como
indivíduo”. Crescer como pessoas, mas também como profissionais, depende de
nossa capacidade de nos afastarmos dos boicotadores (ou olhá-los com compaixão
se forem familiares) e de nossa habilidade para alimentar as relações com
nossos incentivadores.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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