Publicado originalmente no site Revista TRIP, em 08.01.2019
A Conciliadora
Depois de chegar ao topo da carreira corporativa e enfrentar
o câncer do marido, a indiana Nilima Bhat encontrou seu propósito: ajudar
homens e mulheres a fazerem as pazes com seu feminino
Por Julia Furrer
A presença de Nilima Bhat, 52 anos, é daquelas que acalma. A
fala pausada, as mãos em prece antes de a entrevista começar e o gole de água
quente para preparar as cordas vocais parecem confirmar os estereótipos da
indiana iogue. É difícil imaginar que, 20 anos atrás, ela era uma alta executiva
em uma grande empresa, que nunca tinha explorado sua espiritualidade, até
passar por uma crise existencial.
“Eu ganhava muito dinheiro, estava no auge da minha carreira
e senti que a vida precisava ser mais”, conta à Tpm. Nilima tinha 32 anos,
morava em Singapura – depois de passar uma temporada em Londres e outra em Hong
Kong – e trabalhava em uma multinacional, quando se percebeu absolutamente
infeliz.
Na época, ela não imaginava que a experiência no mundo
corporativo se revelaria fundamental para que encontrasse o verdadeiro
propósito de sua vida: promover um modelo de liderança mais feminino, pautado
por valores como empatia, colaboração e gentileza. “A maioria das crises que
enfrentamos na política, na economia, no meio ambiente e até na saúde são consequências
de um sistema hipermasculinizado, que é fundamentalmente hierárquico,
individualista e militar. Nós já sofremos demais por essas consequências
desastrosas e não é mais aceitável continuarmos sofrendo por elas”, afirma.
À esq., o pai de Nilima com sua irmã no colo, seu avô
paterno e ela
com seis meses de idade, nos braços da mãe, em Lonavala,
na Índia
(1967), onde nasceu. À dir., a cerimônia de casamento com Vijay Bhat.
Crédito:
Arquivo pessoal
E não se trata de uma questão excludente de gênero – pelo
contrário: “O que defendo são valores tradicionalmente associados ao feminino e
negligenciados. São características humanas, que homens e mulheres precisam
resgatar”, diz. Sua
teoria
é descrita no livro Liderança Shakti – O
equilíbrio do poder feminino e masculino nos negócios (2016), que escreveu em
parceria com Raj Sisodia, Ph.D. em marketing e um dos fundadores do movimento
Capitalismo Consciente, que se propõe a encontrar uma forma mais humanizada de
conduzir as empresas. Os dois se conheceram em uma palestra e logo perceberam
que o tema proposto por Nilima (Shakti é o princípio feminino da energia
divina) trazia a continuação dessa filosofia de Raj. Atualmente, viajam o mundo
ajudando a formar líderes e organizações mais conscientes. “Costumo perguntar
aos CEOs: ‘Se não houvesse esse cargo no seu cartão de visitas, você seria
capaz de entrar em uma sala e ser respeitado da mesma maneira?’”, diz. Ela
ainda cria, em parceria com a Universidade de San Diego, a Shakti Fellowship,
um programa de liderança para mulheres com duração de nove meses.
Feminista, mas com ressalvas
Nilima não titubeia ao se definir feminista, mas tem
críticas ao movimento, que acredita apostar em estratégias equivocadas.
“Excluir os homens da conversa faz com que uma luta justa e legítima seja
percebida como uma guerra entre os sexos.”
Seu discurso é empoderador: ela coloca sobre as mulheres a
responsabilidade de livrar a sociedade de suas tendências negativas e elaborar
um sistema mais inclusivo, com resultados positivos para todos. “Não é
inteligente ficar brigando pelo que já existe e não funciona; o que nos trouxe
até aqui não nos levará adiante.”
Nesta entrevista, feita na sua segunda visita ao Brasil, a
autora e coach, que mora em Mumbai, fala sobre a infância na Índia, o câncer
que o marido enfrentou e a evolução pessoal que a doença provocou nos dois, o
mundo corporativo e, claro, sobre a liderança Shakti.
Nilima (ao centro), recebendo tintura de henna, entre sua
prima
e uma amiga, no dia do casamento com Vijay Bhat,
em Mumbai (Índia), em
1988.
Crédito: Arquivo pessoal
Tpm. Como é ser mulher na Índia?
Nilima Bhat. Em grande parte do país, principalmente no
norte, as mulheres são rejeitadas antes mesmo de
nascer. Elas representam uma despesa para a família,
que precisa pagar um dote para garantir seu casamento. Muitas são agredidas e impedidas de estudar. Mas existem várias Índias.
Para ter ideia do tamanho do contraste, alguns dos cargos políticos mais
importantes do país são ocupados por mulheres. E isso nem é novidade: tivemos
uma primeira-ministra em 1966.
Qual dessas Índias é a sua? Minha irmã e eu crescemos com
liberdade. Vivemos grande parte da nossa infância em uma base naval perto de
Mumbai, onde existia um centro de treinamento para engenheiros. Meu pai era da
Marinha e desde cedo convivemos com muitas mulheres das Forças Armadas, o que
me ajudou a entender que eu poderia ser o que quisesse. Mais tarde, meu pai
passou a ser transferido a cada quatro anos para diferentes bases militares.
Moramos até na Alemanha Ocidental [entre 1974 e 1975]. Já minha mãe era dona de
casa, vivia para servir os filhos e o marido – o estereótipo da mulher no
século passado. Mas foi ela quem me ensinou a dançar e a gostar de ser livre.
A dança e a ioga sempre estiveram presentes na sua vida? Eu
danço desde criança, é algo que faz parte de quem sou, que ajuda a definir
minha personalidade. Já a ioga conheci adulta, quando comecei minha busca por
autoconhecimento e espiritualidade. Passei a maior parte da vida sendo bem
cética, acredita? As pessoas têm essa impressão de que todo indiano é iogue,
mas não é bem assim. A gente só parece zen [risos].
Por que você sentiu a necessidade de iniciar essa busca? Ela
veio de uma sensação imensa de vazio. Eu tinha 32 anos, morava em Singapura com
meu marido e meus dois filhos e trabalhava na ESPN,
liderando o departamento de relações
públicas da empresa em 25 países entre a Ásia e a Oceania. Foi quando comecei a
sentir que as coisas que tinha conquistado não me preenchiam. Lembro de ver o
comunicado da assessoria de imprensa do Bill Clinton sobre o escândalo sexual
entre ele e a Monica Lewinsky [em 1998], e pensar: “É isso o que eu faço.
Ensino as pessoas a se saírem bem publicamente, a contornarem crises. Mas é
só?”. Ganhava muito dinheiro, estava no auge da minha carreira e senti que a
vida precisava ser mais.
À esq., Nilima entre o marido Vijay e os filhos, Shambhavi e
Shravan,
em 2008. À dir., na Disneylândia, Califórnia, em 1997.
Crédito:
Arquivo pessoal
Tenho a impressão de que essa necessidade de encontrar um
propósito maior para o que fazemos tem se tornado cada vez mais comum. Por quê?
Acho que essa busca ainda é privilégio de poucas pessoas. Primeiro precisamos
suprir a necessidade de sobreviver. É o primeiro estágio, em que a maioria das
pessoas na Índia e no Brasil ainda se encontra. Quando isso está coberto,
buscamos desafios profissionais, queremos ter bons relacionamentos no trabalho
e receber reconhecimento. E aí existe um terceiro estágio, que é buscar sentido
para o que fazemos.
Mas você não vê um aumento dessa terceira preocupação,
principalmente entre as gerações mais novas? Com certeza. Eu tenho 52 anos e
acho que minha geração ficou um pouco perdida. A gente só queria acumular,
consumir, ganhar mais dinheiro. Esse questionamento sobre o “algo mais” não
fazia parte de nós. E olha no que deu: o mundo está do avesso, o planeta não dá
conta de suprir nossa necessidade de consumo. Sobrou para as novas gerações
resolverem essa conta. Vejo que meus dois filhos estão sempre questionando as
próprias atitudes. Shravan tem 28 anos, fez relações internacionais em Yale
(EUA) e trabalha com energia renovável. Shambhavi tem 25 e trabalha no mercado
de arte. Os dois amam o que fazem, mas é maior do que isso: eles entendem que é
parte de suas missões tornar o mundo um lugar melhor.
Me conta mais sobre a sua jornada em busca de
autoconhecimento. O que aconteceu depois do pedido de demissão? Bom, depois de
morar em Hong Kong, Londres e Singapura trabalhando em multinacionais e de me
tornar uma refugiada do mundo corporativo, comecei a praticar ioga e a
considerar a possibilidade de voltar para a Índia, que, convenhamos, é o lugar
ideal para quem vive uma crise existencial [risos]. Na mesma época, acabei ganhando
um empurrãozinho do destino para mergulhar ainda mais nessa busca.
Empurrãozinho? Meu marido recebeu o diagnóstico de câncer no
intestino, em 2001. Como sempre acontece, fomos pegos totalmente de surpresa.
Ele tinha 40 anos, trabalhava em uma grande agência de publicidade e
interrompeu tudo para iniciar o tratamento. Foi quando nos mudamos [de
Singapura] para a Índia e passamos a estudar medicina chinesa e ayurvédica,
psicologia transpessoal e todo o tipo de terapia alternativa. Passei quase nove
anos vivendo como uma monja: ensinava e aprendia ioga e todos os outros
conhecimentos que estava adquirindo. Minha jornada se intensificou tanto a
partir da jornada dele, que é quase como se nós dois tivéssemos tido câncer. A
doença estava no corpo dele, mas a evolução pessoal que isso promoveu ocorreu
em nós dois. Foi o acontecimento mais importante da minha vida.
À esq., em um banho-ritual no rio Ganga, em Dev Prayag
(Índia) , no Himalaia, em 2016.
À dir., com sua mãe, na Muralha da China, em
2003.
Crédito: Arquivo pessoal
Ele se curou? Sim. Tivemos muita sorte porque ele tinha dois
tumores, mas o câncer não se espalhou para nenhuma outra parte do corpo. A
cirurgia que retirou parte do seu intestino também foi um sucesso e,
contrariando todas as expectativas, atualmente ele tem uma vida normal.
Seu primeiro livro, My cancer is me (2013),
é
sobre esse processo. Por que decidiu escrevê-lo?
Escrevemos juntos porque sentimos que era preciso compartilhar nossas
descobertas com pes-soas que estão
enfrentando a mesma situação. A principal delas foi
entender que um câncer não é causado por um vírus, mas uma doença que o próprio corpo
desenvolve quando algo está em desequilíbrio. As pessoas ficam doentes porque
estão mentalmente, emocionalmente ou fisicamente estressadas e é surpreendente
ver como a medicina não questiona nada disso. Quando meu marido iniciou o
tratamento, percebemos que os médicos olham apenas a doença, como se o paciente
não pudesse participar ativamente de seu processo de cura.
Compartilhar esse e outros aprendizados deve ter ajudado
muita gente. Você encontrou o propósito de vida que estava faltando? Em partes.
Passei muito tempo dedicada à doença dele e à criação dos nossos filhos, que na
época tinham 8 e 11 anos. Depois que escrevemos o primeiro livro e que meu
marido já estava curado, senti que tinha encerrado essa missão e que precisava
me reconectar comigo mesma, principalmente com o meu feminino, que andava um
pouco abandonado. Essa busca pessoal me fez perceber que eu poderia ajudar as
mulheres a se empoderarem, quer dizer: se sentirem completas consigo mesmas,
imbuídas dessa força Shakti, que é o tema do segundo livro. Acredito que meu
casamento tenha sido meu maior campo de aprendizado para o material que se
tornou o livro.
O que é Shakti? Na tradição iogue, Shakti é o princípio
feminino da energia divina. Uma fonte infinita de criatividade e inteligência
amorosa, que gerou tudo à nossa volta. Trata-se de um poder que vem de dentro,
que é intrínseco ao ser humano e que ninguém pode tirar de nós. Apesar de o
nome fazer esse conceito soar como algo da Índia antiga, ele está até no Star
Wars. Lembra aquela cena em que o Obi-Wan Kenobi diz: “Use a força, Luke”?
Então: era sobre Shakti que ele estava falando [risos].
Por que atribuímos essa força ao feminino? Shakti é
considerada uma força feminina porque é responsável pela criação, está
relacionada à capaci-dade de gerar uma vida. Mas ela faz parte da essência
humana e está presente em todo mundo, assim como Shiva, que é a energia
atribuída ao masculino. Uma não existiria sem a outra.
Dançando entre duas amigas, também filhas de oficiais das
Forças Armadas,
em Mumbai (1984). "Eu era uma dançarina, coreógrafa e
produtora
ativa nos eventos culturais da Marinha indiana".
Crédito:
Arquivo pessoal
Se as duas são importantes, por que nos acostumamos a valorizar
apenas características associadas ao masculino? Tem a ver com o que entendemos
por liderança em sociedades patriarcais. O modelo que prevalece exagera demais
nos valores masculinos. É fundamentalmente hierárquico, individualista e
acredita no mecanismo de punição e recompensa. Mas isso está mudando. A
humanidade já sofreu demais as consequências dessas características e, aos
poucos, está começando a entender que o futuro precisa ser mais feminino,
estruturado a partir do cuidar e nutrir.
Falando assim, parece que todos os valores associados ao
masculino são ruins… De jeito nenhum. Características como lógica, foco,
estabilidade e racionalidade costumam ser atribuídas ao masculino e são
fundamentais para todos nós. O problema é o desequilíbrio. Desconsiderar o
feminino ao longo da história fez com que o mundo se tornasse hipermasculino,
mas se o extremo oposto tivesse acontecido, provavelmente estaríamos discutindo
os problemas de uma sociedade hiperfeminina, pautada em características como
carência, dependência, dispersão e irracionalidade.
Mas classificar essas características como masculinas ou
femininas não ajuda a reforçar estereótipos de gênero? Feminino e masculino são
apenas palavras que usamos para designar campos opostos, assim como o yin-yang
da filosofia chinesa, ou a noção de racionalidade e emoção. O problema não está
nessa polaridade primária, mas no juízo de valor que se faz sobre ela. Não
existe melhor ou pior. Existem seres completos e incompletos. Equilíbrio e
desequilíbrio.
O mesmo desequilíbrio que observamos na sociedade acontece
no indivíduo? Sim. Homens e mulheres estão desconectados de um aspecto vital de
sua humanidade: suas qualidades inatas femininas. É como escolher entre
inspirar e expirar. Não parece possível, certo? Isso quer dizer que estamos
exercendo apenas metade do nosso ser e que praticamente não funcionamos, já que
a energia só flui quando as duas metades são alavancadas. Precisamos
desenvolver o feminino negligenciado e invisibilizado e trazê-lo para o equilíbrio.
Você já se sentiu invisibilizada por ser mulher? Sinto isso
constantemente e é engraçado como ter dividido a autoria do livro com o Raj me
proporcionou viver inúmeras situações em que essa invisibilidade ficou ainda
mais evidente. Nós viajamos o mundo para dar palestras sobre o livro e, apesar
de ser a pessoa que mais fala nessas ocasiões, perdi a conta das vezes em que
escutei, meio por acaso, pessoas dizerem que tinham acabado de ver um homem dar
uma palestra ótima. Sim, muitas vezes as pessoas simplesmente não se atentam
para a minha presença no palco, ao lado dele. Outra situação clássica, que a
maioria das mulheres já deve ter experimentado, é dar uma ideia durante uma
reunião e ser completamente ignorada, ao passo que, minutos depois, um homem repete
a mesma coisa e não só é ouvido, como leva o crédito.
Com Raj Sisodia, com quem Nilima escreveu Liderança Shakti,
em evento da Tpm em agosto passado.
Você se considera feminista? O feminismo nada mais é que a
luta por equidade entre os gêneros, então sim: sou com certeza feminista. Mas
tenho críticas ao movimento feminista. Acho que a abordagem escolhida é muitas
vezes equivocada, pois exclui os homens da conversa e faz com que uma luta
justa e legítima seja percebida como uma guerra entre os sexos. Entendo que
certos momentos inspiram certa agressividade, mas não é uma boa estratégia.
Cabe às mulheres transformar a ordem vigente do mundo: eliminar o poder sobre o
outro e construir o poder com o outro.
Qual é a diferença entre esses dois tipos de poder? O poder
sobre o outro tem uma relação direta com o ego, depende de uma classificação
externa sobre quem é maior, melhor, mais forte ou mais rico. É um recurso
finito e não passa de uma ilusão. Nos acostumamos a pensar que, para ter poder,
precisamos tirá-lo de alguém ou de algum lugar. É como se existisse um rio
dentro de cada um de nós e a gente insistisse em morrer de sede. Quando o poder
verdadeiro é exercido, ninguém tem que perder para alguém ganhar. Pelo
contrário: as capacidades de todos são alavancadas para um bem comum. O poder
surge quando entendemos que não faz sentido se defender, nem se promover, nem
se sentir ameaçado, porque a força que precisamos está dentro de nós.
Faz todo sentido perseguir esse estado de presença e
autoconhecimento, mas não parece utópico falar sobre isso quando as mulheres
ainda estão lutando por direitos básicos, como andar na rua sem ser assediada
ou ter equidade salarial? Não existe outra alternativa. O mundo não suporta
mais disputas de poder. Entenda que não se trata de deixar de lutar, mas de
investir energia na luta certa: propor um novo modelo de sociedade, que nos
livre das nossas tendências destrutivas. Precisamos mostrar a todos – e lembrar
a nós mesmas – que o que trazemos com a gente é poderoso, forte, diferente. Não
é inteligente ficar brigando pelo que já existe e não funciona; o que nos
trouxe até aqui não nos levará adiante. Tenho certeza de que somos plenamente
capazes de elaborar algo mais inclusivo, com resultados positivos para todo
mundo.
Seu trabalho como coach é uma forma de incluir o mundo
corporativo nesse processo de elaboração? Meu objetivo é ajudar a formar
líderes e organizações mais conscientes. Essa reflexão sobre o poder autêntico,
que acabamos de discutir, é algo que trabalho bastante. Costumo perguntar aos
CEOs: “Se não houvesse esse cargo no seu cartão de visitas, você seria capaz de
entrar em uma sala e ser respeitado da mesma maneira? Teria o mesmo tipo de
resposta?”. Normalmente concluímos que não. E aí começamos a desenvolver o que
está faltando, que é essa liderança feminina que precisa emergir no mundo do
trabalho.
A liderança feminina é necessariamente exercida por
mulheres? Não, porque não adianta nada ter uma mulher no comando com os mesmos
princípios hierárquicos, centralizadores e individualistas que costumamos
associar ao masculino. Todos nós conhecemos mulheres que agem assim e os
resultados nunca são positivos para elas ou para os que estão ao seu redor. O
que precisamos exercitar, em pessoas de ambos os sexos, é uma gestão mais
horizontal e humana, com empatia, ética, propósito e compaixão.
Entre John Mackey (um dos criadores da rede de mercados de
produtos
orgânicos Whole Foods), a escritora Saly Kempton e Raj.
O indiano e
John criaram o movimento Capitalismo Consciente, em 2009.
Crédito: Arquivo
pessoal
Estamos evoluindo? O que mudou desde que você deixou seu
último emprego no mundo corporativo? Essa conversa sobre repensar o capitalismo
e criar um sistema mais humano e consciente não existia há dez anos, quando
pedi demissão. Ninguém se preocupava com a felicidade dos profissionais, não se
falava em engajamento, nem em propósito. Hoje isso é um tema recorrente, então
penso que sim, evoluímos bastante. É um movimento muito relacionado a esse
mo-mento da era digital, que tem levado a economia para uma nova fase. O
crescimento do empreendedorismo entre os jovens é um bom sinal. Eles não
carregam a carga ultrapassada dos negócios antigos, que se baseavam em uma
visão que agora consideramos egoísta e mesquinha. Pelo contrário: prosperam com
o poder de novas ideias e funcionam como criadores que estão reimaginando o
mundo, em vez de mudar as instituições que já são cheias de bagagem e menos
capazes de se adaptar aos novos tempos. Claro que cada país está em um estágio
diferente. Alguns avançaram mais nesse sentido, outros, menos. Mas acho que é
uma tendência mundial abandonar estruturas cristalizadas, reavaliar nossas
métricas de sucesso e repensar os modelos de trabalho, apostando em relações
pautadas por esses valores tradicionalmente atribuídos ao feminino.
Por que essa mudança não chegou na política? O Brasil acabou
de eleger Jair Bolsonaro como presidente, um ex-capitão do exército que opera
em uma lógica absolutamente masculina: é agressivo e acredita no poder das
armas, não do diálogo. Trump, como presidente dos Estados Unidos, tem um estilo
bem parecido. Por que continuamos apostando nesse modelo de liderança? Porque,
apesar de tudo que evoluímos como espécie humana, continuamos acredi-tando na
lei da selva, que estabelece um cenário de escassez de recursos no qual somente
o mais forte será capaz de sobreviver. É um conjunto de crenças extremamente
desatualizado, que nos impede de superar convicções como “não somos o
suficiente”, “não temos o suficiente” e “não há o suficiente para todos”. Isso
aparece especialmente na política, pois ainda há a ilusão de que os políticos
precisam nos proteger e garantir que a gente ganhe a disputa. Bobagem. Uma
investigação mais profunda revelará que não há vitórias sustentáveis enquanto
houver perdedores, porque somos todos interligados e interdependentes.
Que recado você deixaria para as brasileiras que estão
apreensivas com esse novo governo e sua ameaça de retrocesso? Não tenham medo.
Não há tempo para se comportarem como vítimas indefesas. Se fortaleçam para
lutar contra as injustiças e concentrem-se em encontrar soluções que funcionem
para todos. Sejam agentes de transformação em suas comunidades e encorajem as
pessoas que estão a sua volta. É preciso evoluir e ser a mudança que queremos
ver no mundo, como disse Mahatma Gandhi. As crises trazem perigos, mas também
oportunidades. Encarem essa eleição como um chamado para enfrentar medos
profundos e reivindicar o verdadeiro poder. O caminho a ser percorrido é
difícil, mas tenho certeza de que todos sairão desse processo fortalecidos.
Texto e imagens reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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