A escritora Marina Colasanti
Publicado originalmente no site Brasil Elpais, em 13/DEZ/2017
Marina Colasanti: “Não perco tempo com leituras
insignificantes”
Escritora ítalo-brasileira ganhou na FIL de Guadalajara o
Prêmio SM de Literatura Infantil e Juvenil
Os livros ajudaram a pequena Marina Colasanti (Asmara,
Eritreia, 1937) a esquecer que vivia sob o cerco da Segunda Guerra Mundial.
Desde então, publicou mais de 60 obras para crianças e adultos. Antes, estudou
Belas Artes no Rio de Janeiro. Foi jornalista do Jornal do Brasil. Traduziu
Roland Barthes e Yasunari Kawabata para o português. Agora, acaba de receber na
Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México) o Prêmio Ibero-americano
SM de Literatura Infantil e juvenil.
Como teria sido a guerra para você sem os livros? Totalmente
sem graça. E sem exemplos de sobrevivências significativos. A literatura é
construída em torno de conflitos ou perigos que ameaçam os personagens e que
precisam ser superados. É o que acontece com Ulisses ou nos contos de fadas,
com Peter Pan e os Três Mosqueteiros. É a mesma coisa para quem vive uma
guerra. Como teria sido pobre e monótono crescer sob a Segunda Guerra Mundial
alimentada apenas pelos slogans e as imposições do regime fascista.
Considerando os seus diversos interesses, como faz para
organizar suas leituras? É bastante caótico. Adoro ler em aeroportos e nos
voos. Posso ler de pé em uma livraria apenas para ter uma ideia do que o autor
está falando ou abandonar um livro depois de poucas páginas. Fiz 80 anos de
idade este ano, e o tempo se tornou algo extremamente valioso. Não posso
perdê-lo com leituras insignificantes.
Existe poesia na literatura infantil? Apenas quando ela é
excelente.
E literatura infantil na poesia? Se não for poesias para
crianças, não. Até mesmo quando o poeta fala sobre sua infância, não estamos no
campo da literatura infantil. A poesia é mais vertical e mais codificada.
Continua a acreditar em fadas? Nunca acreditei em fadas,
tampouco trabalho com elas. Acredito em símbolos.
Walt Disney está para a literatura infantil assim como uma
marcha militar está para a música? Boa frase! Mas uma marcha militar pode se
aproximar da música e existem muitos toques militares na grande música
clássica, bem como na ópera. Disney, ao contrário, troca o simbólico pelo
óbvio, transforma contos milenares em musicais esvaziando-os de seu conteúdo.
Sua única finalidade é de caráter mercantilista.
Quais livros infantis atuais serão os clássicos de amanhã?
Gostaria de dizer: os melhores. Mas sabemos que, além da qualidade, também as
circunstâncias desempenham um papel importante na construção de um clássico.
O que você gostaria de ser se não fosse aquilo que é? Teria
sido artista plástica. Foi para isso que estudei.
O que acha que está sendo socialmente supervalorizado hoje
em dia? O desejo individual e o ego.
Que tipo de tarefa você jamais aceitaria fazer? Qualquer uma que implicasse maltratar seres vivos. Ou em que
eu tivesse de mentir.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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