À esq., na abertura das Olimpíadas do Rio, em 2016, com Caetano e Gilberto Gil;
com Maluma, na gravação de "Sim ou não", no mesmo ano
Crédito: Felipe Costa e Sergio Blazer/Divulgação
À esq., no Bloco das Poderosas, no Carnaval do Rio deste ano; à dir., acima,
foto que causou polêmica por conta das tranças; abaixo,
com a life coach Mayra em uma viagem de jato
Crédito: Arquivo pessoal
Na gravação de Bang, em 2015 (Crédito: Divulgação).
À esq., acima, na Bahia com a amiga Marina Morena, em 2016; abaixo, com o pai,
Mauro, na festa de 24 anos; à dir., com a mãe, Miriam, o irmão, Renan,
e sua namorada, Jeniffere o música Xanddy, na Bahia.
Crédito: Arquivo pessoal.
À esq., ainda Larissa, aos 5 anos, na escola; com a avó, Maria Gloriete,
aos 6 anos; e com o avô, Pedro Julio, aos 12.
Crédito: Arquivo pessoal
Onipresença de Anitta.
Os números confirmam: Anitta é hoje das maiores artistas
pop. Mas o que passa pela cabeça dessa carioca que começou nos bailes de favela
do Rio para se tornar talvez a maior artista do país?
Por Natacha Cortêz. (17.05.2017 TRIP #265).
Tem um tempo que Anitta anda sonhando com comida. Quando não
é comida, é com alguma situação na qual o inglês é o idioma obrigatório. Os
sonhos da cantora contam um pouco sobre o que é viver em sua pele hoje. Passar
vontade e treinar exaustivamente um inglês americano livre de sotaque é parte
de um planejamento que inclui viagens frequentes a Los Angeles, ficar fluente
em espanhol, dançar como Beyoncé e mudar uma imagem de moda que até um passado
recente era ligada ao funk. Todo o esforço, combinado a um pesado investimento
financeiro, tem como objetivo uma aterrissagem estratégica no disputado mercado
fonográfico "internacional", ou melhor: norte-americano. "Sou
muito planejada, você não vai me ver dar passos no escuro. Enquanto não estiver
tudo como acho que tem que estar, não vou em frente", diz, depois de
recusar uma das refeições obrigatórias da dieta feita especialmente pra ela.
Anitta recebeu a Trip na própria casa, uma mansão de três
andares em um condomínio na Barra da Tijuca, bairro de emergentes no Rio de
Janeiro. Dizem que é vizinha de Juliana Paes. Dizem ainda que o imóvel custou
R$ 10 milhões, fora os gastos com a decoração, de estética pop com móveis de
designers renomados. Ali, mora com a mãe, Miriam, três cachorros e uma
porquinha-da-índia. No dia da entrevista, estavam na casa também Karina, que
cuida da venda de shows na Rodamoinho, a empresa que Anitta tem para gerir sua
carreira com o irmão Renan, que apareceu durante a tarde; um amigo que havia
dormido lá; a ex-BBB e life coach Mayra, responsável pela rotina alimentar da
cantora; dois cozinheiros; um jardineiro; uma ou duas empregadas domésticas; e
Paulo, o assessor de imprensa. No terceiro andar, há uma ampla sala de dança
onde a cantora treina boxe e coreografias todo dia – pra ver, basta segui-la no
Snapchat.
Engenharia de produção
Vinda do funk carioca – foi descoberta aos 17 anos pelo DJ
Batutinha, da Furacão 2000, num vídeo no YouTube em que cantava usando um vidro
de perfume como microfone – Anitta tem um faro raro para a administração que se
reverte, na carreira gerida por ela mesma, em números e feitos de respeito. O
último: foi a única brasileira no Social 50 da Billboard americana, um ranking
que mede a popularidade de artistas nas redes sociais. Ela aparece em 33o
lugar, na frente de Katy Perry (35o), Taylor Swift (40o), Bruno Mars (44o) e
Lady Gaga (45o).
Na abertura das Olimpíadas, transmitida pro mundo todo, foi
escolhida para cantar ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Para a música
"Sim ou não", convidou o colombiano Maluma, e para o single novo,
"Switch", que lança este mês, a cantora Iggy Azalea. Antes disso,
fechou parceria com o diretor criativo ítalobrasileiro Giovanni Bianco, que já
trabalhou com nomes como Madonna. É dele a direção de arte dos vídeos de
"Bang" e "Essa mina é louca", dois ímãs de views no
YouTube, com 300 milhões e 170 milhões, respectivamente. E isso considerando os
vídeos oficiais. Com os enviados por fãs, um dado que o YouTube leva em conta
para medir o tamanho dos artistas, Anitta registra 2,5 bilhões de views (and
couting). No Spotify, é a quarta mulher mais ouvida desde que o aplicativo foi
lançado por aqui – a primeira é Rihanna.
Nascida em 1993 com o nome de Larissa de Macedo Machado e
criada em Honório Gurgel, bairro carioca de classe média baixa, Anitta se
inspirou na minissérie Presença de Anita (baseada no livro homônio de Mário
Donato) para escolher o nome artístico. Quando criança, aprendeu a cantar na
igreja, levada pelos avós paternos. Em 2012, assinou com a Warner Music e
lançou o clipe de "Show das poderosas", que a catapultou para a fama:
Anitta passou a estar em todos os lugares, fez parcerias certeiras, estudou
muito, cuidou – e ainda cuida – de cada detalhe, incansavelmente. Aos 24 anos,
dispensa empresários, não é de largar o osso e atribui a isso a chave pro
sucesso que colhe agora. "Querer é poder" é como um mantra pra ela.
Na entrevista a seguir, as estratégias, os interesses, os
sonhos e as opiniões (e algumas respostas evasivas) de uma das mais influentes
artistas brasileiras da atualidade.
Trip. É normal, por conta do seu primeiro sucesso, "Show das poderosas", você ser
associada a essa palavra. Mas você se sente poderosa? Anitta. Se ser poderosa é
ser livre para fazer o que você tem vontade e conseguir chegar aonde você quer
– se poder significa fazer o que quero –, sim, me sinto.
A fama faz você pensar duas vezes antes de fazer algo? Não
existiu até agora uma situação em que eu tenha chegado à conclusão de que não
faria algo por ser uma pessoa pública. Não me privo. E nunca fui de fazer
coisas erradas. Sempre medi muito as coisas e procurei respeitar o próximo.
Quando você respeita o próximo, não tem erro. Meu limite é onde o do outro
começa.
O sucesso não tirou nada de você? Não. Sou muito feliz com a
minha vida. Sou dona da minha agenda, dona das minhas decisões. Tudo que faço é
uma escolha minha. Esta entrevista, por exemplo, eu soube, eu quis e eu decidi
que seria este dia.
“Sou dona da minha agenda, dona das minhas decisões. Tudo que
faço é uma escolha minha” Anitta.
Até coisas banais você consegue fazer normalmente? Tem uma
coisa banal: comer. Amo comer exageradamente. Mas não tenho certeza se me
privar de comer seja uma exigência do sucesso, talvez tenha mais a ver com
saúde. Se não fosse famosa, cairia na mesma limitação.
Você faz dieta? Como de forma saudável. Quando escapo,
escapo. No mais, dá pra você comer gostoso e saudável. É só recorrer às pessoas
certas para te ajudar.
A quem você recorreu? Agora, à Mayra Cardi, que veio da
Califórnia para passar um mês me acompanhando aqui em casa [Mayra é ex-BBB e,
hoje, life coach]. Ela ensina as pessoas a mudarem a rotina de exercícios e o
cardápio. Cuida da alimentação, do treino e até da mente. Te ajuda a não ficar
pensando em comida o dia inteiro, como eu ficava.
Você disse que a dieta não tem muito a ver com a fama. Mas,
para uma artista pop, o quão importante é o corpo? É preciso ser magra? Sem
hipocrisia: é importante. O trabalho que faço envolve dança, fôlego e
disposição, mas nem sempre saúde quer dizer magreza. Aprendi isso com a Mayra.
A pessoa pode ser magra, ter um corpo lindo e não ser saudável. É importante,
pra mim, ter um corpo saudável por causa da dança, e pela forma como gosto de
me vestir no palco. É difícil você dançar com muita roupa, por exemplo. Os
movimentos ficam travados. Mas não sou refém disso. Não fico mal por isso,
sabe? Não vivo em torno disso. É uma parte de um todo. Se você está bem,
resolve isso bem.
Vivemos um momento de liberação feminina. Como você vê essa
ideia de as mulheres se aceitarem como elas são? Acho que as pessoas têm que
fazer o que se sentem felizes fazendo. Quando tô a fim de cuidar do corpo e
ficar incrível, faço isso e tá tudo certo! Tudo em exagero é ruim. Comer em
exagero é ruim, pensar exageradamente em dieta também.
Você sempre se gostou? Não. Esteticamente falando, nem
sempre.
Quando foi isso? Na adolescência. Mas não sofria com isso. O
fato de eu não me gostar não significava que eu acordava e ficava reclamando
com o espelho.
Você lembra do que não gostava? Ah, não gostava de tudo que
aparei depois, né? De tudo em que fiz plástica.
E quais foram as plásticas? Já fiz plástica no nariz, no
corpo. Mas não quero especificar.
Você pensa em fazer outras? As pessoas me perguntam isso o
tempo todo. Mas não, não fico com essa obsessão, pensando em fazer mais uma
plástica. Tipo: "Não vejo a hora de fazer outra plástica". E, se eu
fizer, não vai ser porque eu estou infeliz. Pra mim plástica é algo simples. É
como eu acordar e decidir que quero deixar o cabelo crescer ou decidir ficar
loira.
Mas plásticas são procedimentos definitivos. Não. Se você
quiser, você pode ficar mudando a plástica que fez.
Mas aí comparar com pintar o cabelo… Olha, me sinto
completamente outra pessoa ao pintar o cabelo. Me sinto outro ser humano. Se
estou com um cabelo que não me agrada, nem me reconheço.
Então, ao fazer os procedimentos você tinha vontade de se
sentir completamente você? Não. Era vontade de fazer o que queria. As pessoas
têm a necessidade de potencializar o motivo de uma plástica, né? E nem pra todo
mundo existe esse motivo tão grande assim. Para mim pelo menos, não. E, sabe, é
justamente isso que está começando a mudar aos poucos na sociedade. As pessoas
estão começando a entender que aquilo que é difícil pra um, não é pro outro. Para
mim, plástica não é questão nenhuma. Se fiz e não gostei, faço outra para
resolver. Não potencializo as coisas como se não tivessem volta. E plástica é
uma coisa que as pessoas têm dificuldade de assumir, pois tem isso do
"você tem que se amar do jeito que você é". E essa obrigação traz uma
dificuldade em assumir que você fez uma. Falo disso abertamente justamente
porque ninguém tem coragem de falar.
Por que acha que as pessoas não falam? Quando se é uma
pessoa pública, vocês [a imprensa] se metem o tempo todo pra dizer se fulano
era melhor antes ou depois. E tem muita gente que não gosta dessa entrada das
pessoas, dessa invasão.
Você sente essa invasão? Acho injusto eu chamar de invasão
ou reclamar. Adoro ver as curtidas nas minhas fotos e que meu clipe seja
assistido por milhões. Não é justo eu querer que as pessoas lotem meu show,
assistam ao meu clipe, comprem meu CD, meus produtos e proporcionem a vida que
tenho, e não querer que elas se metam na minha vida. Essa é a minha filosofia.
Eu acho que faz parte da fama: eu pedi isso e busquei essa vida.
Então esse preço da fama nunca foi alto? De novo: quando vou
atrás de milhões de visualizações, milhares de pessoas no show, eu sei que vai
rolar uma espécie de troca. As pessoas têm curiosidade de saber da minha vida.
É uma troca e respeito isso. Até quando elas são invasivas, tento entender o
lado delas.
Você já declarou que sonha em ser artista desde que se
conhece por gente. É isso mesmo? Penso em ser artista desde que nasci. Tenho
fitas em que eu tinha 2 anos de idade e tô cantando naqueles microfones de
brinquedo. Fazia show para as minhas bonecas e apresentava programas com
embalagem de perfume como microfone para meus bichinhos de pelúcia. Eu ia em
festas de criança, de penetra, só para dançar. Queria ser atriz, apresentadora,
cantora. Eu queria ser tudo.
Dá para dizer que sua casa era musical? Era movida à música
porque eu mesma tinha isso. A música tocava o tempo todo porque eu pedia e
fazia questão. Sempre fui muito curiosa. Queria saber como o mundo acontecia,
acho que isso me levou à música, mas também me levou pra tudo. Assistia a
documentário de biologia e história, coisa que as crianças da minha idade não
gostavam. E vim de um lugar humilde, onde a leitura não era estimulada. Quanto
mais humilde o lugar, menos você sente a presença da leitura. Na minha casa, a
televisão era estimulada, a leitura eu fui atrás.
Você foi autodidata então. De uma forma, sim. Eu ia atrás do
que me interessava. Mas recebi muito conhecimento pela TV também. As pessoas
engessam o que é estudar. Tem várias formas de você adquirir conhecimento, a TV
pode ser uma delas.
Ainda vê bastante televisão? Sim, mas procuro assistir
coisas que vão me agregar. Assisto a muitos documentários. É uma coisa que não
imaginam que eu faça, né?
Que documentário você viu recentemente? É uma série, chama
Cosmos, vi na Netflix. Fala sobre a teoria da criação do universo. Tenho muita
curiosidade dessa coisa religião versus ciência.
Você reza? Muito. Creio na ciência, mas, até crendo nela,
acredito no poder das minhas rezas. Rezo pra sempre me manter uma pessoa
correta, pra que seja justa e merecedora das coisas que tenho. Peço a Deus e
aos meus anjos da guarda, a pessoas que faleceram, minha avó, por exemplo.
Você vai à igreja? Não tenho tempo.
Se tivesse, iria? Não. Nem sempre acho que as pessoas que
estão ali têm bons propósitos.
Você estava contando mais cedo que assiste aos shows da
Beyoncé e da Jennifer Lopez para estudar figurino e dança. Você estuda para
poder opinar em todos os processos ligados à sua carreira? Olha, não me meto
onde não sei. Se abro a boca pra falar alguma coisa, é porque tenho certeza do
que estou falando, é porque já pesquisei, e vi que não tô falando asneira.
O vídeo de "Bang" foi um divisor de águas? Foi.
Muito. O Giovanni [Bianco] conseguiu um produto e uma imagem que agradassem
gregos e troianos. Aquela imagem ficou entendível pro público da moda, pro
público que não entende nada de moda, pros adultos, pras crianças...
Conseguimos mostrar que é possível fazer um trabalho popular e chique. Divertido
e sensual. E, né, eu vim da favela. Minha carreira começou cantando nos bailes
de favela. Hoje, canto pra público AAA – não acredito muito nessa coisa de
classe A ou B, mas as pessoas separam –, canto para todos os públicos.
“As pessoas engessam o que é estudar. Tem várias formas de
você adquirir conhecimento, a TV pode ser uma delas” Anitta.
Tem algo naquele clipe de você se apresentar como uma
artista mais ligada à moda. Isso era uma vontade sua? Olha, antes eu não
gostava de moda. Mas, a partir do momento em que entendi que tinha que lidar
com moda, entendi que tinha que gostar. E hoje não só gosto como tento entender
como a moda pode me ajudar na carreira. Não tenho tempo pra estudar como
gostaria, porque, afinal, tenho um monte de coisa pra cuidar, mas sempre
procuro o profissional ideal pra trabalhar comigo. E tem uma pessoa, que é a
Marina Morena [empresária, filha de consideração de Gilberto Gil e Flora Gil],
que me ajuda a encontrar as pessoas certas. E aí eu vou aprendendo. Acho que a
gente nunca pode ter vergonha de dizer que não entende, porque senão vai
continuar sem entender pro resto da vida.
Você acabou de falar da quantidade de coisas que faz. Você
tem empresário? Hoje eu sou minha empresária. Tenho a minha empresa e
supervisiono todo o funcionamento dela. São mais de 50 pessoas que vou gerindo
diariamente, fora os colaboradores indiretos.
"Supervisiono" você quer dizer dá a palavra final?
Palavra final, mas não só. Eu cuido o tempo inteiro das coisas.
E quais são elas? Cabelo, maquiagem, styling. Publicidade,
propaganda, patrocinadores, campanhas. Assessoria de imprensa. Mídias sociais –
o que eu devo dizer nelas, quando sumo, quando volto, quando faço eles sentirem
falta de mim, quando os fãs precisam de mais atenção. Coreografias. Parte
musical da direção do show. Compor músicas. Lançamento de clipe. Cenário, luz,
roteiro de show. Gerenciamento da equipe técnica que vai fazer isso acontecer.
A venda de shows. E agora o internacional. A parte legal também, porque tudo
que acontece tem contrato. Contabilidade, que é a parte que eu mais odeio.
Mas não tem ninguém pra cuidar da contabilidade pra você?
Óbvio que sim. Mas, se você não vai lá olhar, uma hora algo ruim acontece.
O que você não supervisiona? O que você confia para outro de
olhos fechados? Isso é impossível. Não existe nada que eu nunca cheque. Estou
sempre cobrando, analisando, vendo se está tudo exatamente como eu gostaria que
estivesse. Mas existem, sim, os profissionais em quem eu mais confio. É o
seguinte: quando eu contrato alguém, deixo por um mês ele fazer o que quiser. E
daí, se eu gosto, show.
Em uma profissão em que todo mundo quer pegar um pedaço do
seu sucesso, do seu dinheiro, é necessário ser controladora? Quando eu não tô
prestando atenção em tudo, você pode ter certeza de que algum lugar vai ter uma
falha. Mas esse controle todo, eu não faço com dor, nem com tristeza, porque eu
que escolhi isso pra minha vida.
Você tem dificuldade de confiar no outro? Eu digo que tenho,
mas não tenho, não. Se eu encontrar uma pessoa em quem eu consiga confiar minha
carreira, vou amar. Sei o quanto custa de energia para tomar conta de tudo
perfeitamente. É uma rotina desgastante. Só consigo porque amo o que faço.
Seu irmão é seu sócio? Sim. Ele fazia faculdade de ciência
da computação e eu meio que obriguei ele a vir viver minha vida e agora ele ama
o que faz. Meu irmão cuida pra mim das partes mais exatas, os custos por
exemplo. Ele tenta fazer as coisas que eu quero fazer pelo menor custo
possível.
Dá impressão de que você tem irmãs gêmeas e que as esconde.
Pra você ver! E além disso tem que ensaiar, fazer show, tirar fotos com a
galera, ficar magra! [Risos.] Essa é brincadeira. Não é tanto assim. Mas sou
detalhista. Olho os mínimos detalhes de tudo, pra que tudo fique o mais próximo
de perfeito. E consigo porque conheço muito o meu público.
Uma reportagem recente dizia que você mesma agendava e fazia
reuniões com patrocinadores. Continua assim? Sim. Semana passada eu fiz uma
dessas reuniões. Dessa vez com a marca que vai patrocinar o próximo clipe.
Conheço meu público melhor do que ninguém. Então prefiro entender o que o
cliente quer e ser sincera. Se meu fã não gostar, não vou fazer. Ou então digo:
meu público vai entender melhor se for desta maneira.
Quem são seus patrocinadores hoje? Três grandes marcas estão
comigo há três anos e a gente acabou de renovar: Samsung, Adidas e Niely Gold.
E eles têm meu telefone pessoal. Podem falar comigo quando quiserem.
Você ainda tem um programa no Multishow, que é ao vivo, toda
semana. Nunca faltou na gravação? Este ano eu falei com eles que os próximos
meses seriam de muita viagem, por conta da carreira internacional. E eles
falaram: "Mas a gente quer muito renovar, então vamos combinar assim: você
pode faltar cinco vezes".
Em que pé está sua carreira internacional? Eu falo dela
porque as pessoas me perguntam muito, mas por enquanto ainda estou fazendo o
trabalho de base, armando o jogo.
E por que você acha que perguntam muito? Acho que é porque
as pessoas realmente têm essa esperança de que eu consiga. Mas só falo da
carreira internacional porque as pessoas perguntam. Se fosse por mim, não
falaria. Não gosto de causar expectativa de uma coisa que nem sei ainda como
vai ser, do que vai rolar. Eu sou planejada. E falo isso até com os managers lá
de fora. "Olha, se não tiver aqui na minha frente pra eu olhar as datas,
como vai ser, quanto, os números, não vou mexer um pauzinho." Não adianta
sair colocando coisa na internet, jogando aí ao léu, entende? Vou estar
queimando cartucho.
Tem uma frase da Beyoncé: "I’m not bossy, I’m the
boss" [Eu não sou mandona, sou eu quem manda]. Você se identifica com essa
frase? Sim... É... Médio. Eu realmente sou quem manda, mas eu não gosto de ter
que deixar isso claro. Gosto de ver a minha equipe crescer num nível que não
precise falar "eu que tô mandando" ou "a chefe sou eu".
Eu queria voltar nos estudos. O que você está estudando
agora? Inglês eu nunca paro. Agora faço accent coach, que é pra tirar o
sotaque. Estudo espanhol. E estou lendo muito sobre psicologia. Se não fosse
artista, seria uma psicóloga feliz.
Estuda psicologia em casa? Sim, só em casa. E tenho pessoas
que vão me dando recomendações. A minha terapeuta, por exemplo.
Que tipo de terapia você faz? Não quero dizer, não.
Quanto tempo faz? Tem pouco tempo, desde que eu conheci a
Mayra. Ela indicou.
Gosta de cozinhar? Amo! Só não tenho tempo, mas adoro.
Qual é o prato que você mais gosta de fazer? Pizza! Mas sei
fazer tudo: panqueca, lasanha, até pão. Sei fazer muita comida, desde criança.
Tem algo que não interessa aprender de jeito nenhum? Se eu pudesse,
aprenderia de tudo. Conhecimento é sempre libertação.
Como você se informa? Lê jornal, alguma mídia específica?
Leio jornal, sim. Mas não tem nada que eu acesse todo dia.
“Não existe uma fórmula certa pra ser mulher. Existe uma
fórmula certa pra ser humano: respeitar o outro e se respeitar” Anitta.
Qual sua opinião sobre o caso Su Tonani e Zé Mayer? Muitas
globais se posicio-naram com a hashtag #mexeucom-uma-mexeucomtodas. E você? O
que pensa sobre isso? O respeito tem que existir. Era o que eu estava falando
sobre limites. O seu limite termina onde o do outro começa. Você pode ir até
onde for o limite do outro. E isso é uma coisa muito delicada, né?
Você se identifica com o feminismo, com as reivindicações do
movimento? As pessoas me perguntam muito isso, sabia? Perguntam também se sou
feminista.
E o que você responde? Que sim, que espero que os direitos
sejam iguais para todos. Nesse sentido eu me identifico com o que diz o
movimento. Mas, quando vejo mulheres dizendo que são melhores que os homens e
têm o direito de se sobrepor, daí não concordo. Não acho que a mulher é melhor
que o homem, nem o homem melhor que a mulher. Eu não sou a favor do pensamento
que diz que o homem deve ser tratado como coisa. Se não queremos ser tratadas,
não podemos tratar ninguém assim.
Mas você recebe críticas por rebolar e muitas vezes é vista
como objeto, não? É verdade. Mas olha que engraçado: recebo mais preconceito de
mulheres que de homens. Inclusive, já me deparei com mulheres que se diziam
feministas e julgavam minhas vestimentas e jeito de dançar. Mulheres devem se
unir, não se atacar. Não existe uma fórmula certa pra ser mulher. Existe uma
fórmula certa pra ser humano: respeitar o outro e se respeitar. Não gosto de
nada que aponte dedos.
Já pensou que, se você fosse homem, seria menos julgada?
Não. Acho que sou julgada por vir do funk, por dançar e porque as minhas
músicas não oferecem conhecimento. Minha música é entretenimento, mas você não
vai aprender... Ou vai, né? Talvez minha música conte um pouco de feminismo.
Acredito que mulheres podem aprender a se amar mais ouvindo o que canto. Isso
de autoestima. Pra mim, homens precisam tratar mulheres como tratam os amigos
deles: sem julgar.
Você falou do preconceito que sofre por ter vindo do funk.
Não tem mesmo nada sexista aí? Homem cantando funk sofre o mesmo preconceito
que você sofre? Quando você vê um homem cantor muito vaidoso, ou que se assuma
gay, ou que use roupas justas e femininas... Todo mundo não tem preconceito com
o cara?
Mas ainda é machismo, não? É verdade. Pensando bem, a
sensualidade é sempre punida. Com homens ou mulheres. Se você é muito vaidoso,
vão dizer que sua música
é ruim. Isso acontece comigo.
Recentemente acusaram você de apropriação cultural por causa
de umas tranças que fez em Salvador. Aquele era um momento em que todo mundo
falava sobre esse tema. Você pensou sobre isso? Pensei. Mas acredito que as
pessoas são livres para fazerem tranças em seus cabelos. Eu resolvi fazer no
meu. Se causei algum tipo de situação que possa ter ferido alguém, essa nunca
foi a minha intenção. Eu gosto de tranças.
Qual é sua ascendência? Tenho avós maternos nordestinos e
paternos negros.
“Se você é muito vaidoso, vão dizer que sua música é ruim.
Isso acontece comigo.” Anitta.
Você geralmente fala o que pensa, se coloca. Alguém já te
aconselhou a ser mais comedida? Já, sim. E com alguma razão. Se a gente é
verdadeira, jogam pedra. Mas, sabe, as pessoas têm medo de se impor, medo de
falar, medo de se mostrarem como são. Justamente porque, se fizerem, vão tomar
muita pedrada. Elas preferem evitar essa fadiga. Eu não. Eu falo, me coloco. E
sou incansável. Prefiro dar minha opinião e ser o que quero ser, me sentir confortável
na minha pele. Alguém precisa fazer isso e estimular as pessoas a olharem pro
que é diferente.
Alguma crítica, notícia ou meme já mexeu de verdade contigo?
Botou você pra baixo ou te emputeceu? Já. Mas não gosto de falar. Não gosto
porque quando falo parece que a coisa volta. E pra mim é difícil limpar uma
coisa que me deixou brava ou triste.
Foram críticas? Não. Foram vezes que inventaram coisas, me
botaram em polêmica.
As vezes que inventam namorado? É tipo isso.
Você não teve muitos relacionamentos públicos. Namora pouco
ou assume pouco? Não tenho problema de assumir. Se alguém pergunta se fiquei ou
estou ficando, não sei mentir. No fim, não tive um namoro sério desde que
fiquei famosa de verdade.
Cobram de você esse namorado? Opa! As pessoas têm esse
pensamento de que, pra mulher ser feliz, precisa ter um homem do lado. Pelo
amor de Deus, né?! Pra eu ser feliz, bastam meus amigos, uma penca de gays que
amo.
Em uma época disseram que você estava namorando uma amiga,
por causa de uma selfie postada por ela, ou por você, no Instagram. Vocês se
pegavam? Quem!? Ah, já sei: a Juliana. É uma amiga minha lésbica. Não, a gente
nunca teve nada.
Mas você já se relacionou com mulheres? Ainda não.
Poderia se relacionar? Sim, tranquilamente.
O tema desta edição da Trip é privilégio. Qual foi o maior
que você teve na vida? Minha mãe. O apoio que ela me deu, o fato de ter parado
a vida para nos criar, eu e meu irmão. Se não fosse o apoio da minha família, a
minha vontade – que é enorme, eu sei – não teria vingado e eu não sei se
estaria aqui.
E seu pai? Onde estava? Ele se separou da minha mãe quando
eu tinha 1 ano. Mas, mesmo longe, ele ajudava.
Era um pai presente? Da maneira dele, sim. Olha, hoje
entendo por que meu pai não era tão presente. Hoje que trabalho muito, entendo
completamente.
E hoje vocês são próximos? Somos inclusive muito amigos.
Quantas horas você dorme por dia? Depende, tem dia que
consigo dormir quatro, três horas, tem dia que oito. Mas sou eu que escolho.
E férias? Prefiro ter um intensivão de trabalho e férias
mais folgadas. Quando paro pra descansar, tento realmente descansar.
O que você faz nas suas folgas, por exemplo? Amo ir ao
cinema.
Pra onde foi sua última viagem de férias? Los Angeles. Mas
nessa roubei no jogo, acabei indo pra lá porque tinha umas reuniões da carreira
internacional. Eram férias, mas usei pra trabalhar. Antes de Los Angeles fui
pra Los Cabos, no México. Foi incrível.
Com o que você sonha – literalmente? Ultimamente com comida.
Também sonho bastante com trabalho.
Vivemos um momento particular do país. Como você se envolve
nele? Como é a sua relação com a política? Influencio muita gente, especialmente
os jovens, que procuram opinião pra poder formar a sua, por isso evito falar do
que não entendo. Acho que vivemos um momento jamais visto antes. E é difícil
você dar uma opinião quando não tem o veredito de fato. Eu não consigo opinar
sobre certo ou errado porque todo dia o cenário muda.
A crise financeira afetou sua carreira? Afetou, sim. E
artista que disser que não afeta, tá mentindo. O país está vivendo um momento
no qual as pessoas precisam fazer escolhas mais criteriosas. Não estão
esbanjando.
Mas você continua fazendo uma média de 20 shows ao mês.
Continuo. Mas, se o país não estivesse em crise, os shows poderiam, por
exemplo, ser mais luxuosos e custar mais. Entende? Os meus cachês seriam outros
também. A equipe poderia ser outra e os shows poderiam chegar a outros lugares.
A partir de quanto custa um show seu hoje? Essa é uma
informação que a gente não dá. E não dá porque os valores mudam. Posso divulgar
isso agora e amanhã o valor ser outro.
“Tenho vontade de ter filhos e de adotar também. Quero
muitas crianças. Mas só farei isso quando tiver tempo pra ser mãe por completo” Anitta.
O que dá mais dinheiro? Show, venda de CD, contrato com
marca? Geral. Eu faço uma balança onde tudo tem mais ou menos o mesmo peso.
Primeiro porque não quero virar um outdoor ambulante, ostentando marcas e
perdendo minha identidade, e depois porque não quero cansar o público fazendo
show todo dia.
Quanto do dinheiro fica para você e quanto é investido de
volta na carreira? Fico com 10% do meu bruto. O resto boto de volta na
carreira. Uma vez meu irmão veio com umas contas e disse: "Você vai ficar
chocada, nosso bruto é muito maior do que o dinheiro que fica contigo".
Respondi: "Não fico chocada. Minha carreira tá do jeito que eu sempre
quis".
Qual foi a coisa mais especial que o seu dinheiro comprou
até agora? Meu clipe "Essa mina é louca". Dirigido pelo Giovanni.
Quanto custou? Não abrimos esses valores.
Você guarda dinheiro? Guardo. Comigo eu quase não gasto,
acredite.
Drogas ilícitas: usa alguma? Não.
Nunca usou? Já usei, mas foi sem querer. Meu assessor me
mata se eu contar. Mas foi isto: não tinha gosto, foi oferecida na água. Não
tinha ideia que era droga. Foi fora do país isso.
Mas não sentiu uma vibe maneira? Não, passei mal. Sou
totalmente contra drogas. Mas completamente a favor de as pessoas fazerem o que
quiserem da vida delas. Só não curto levantar bandeiras.
E lícitas? Bebida, cigarro? Bebo muito raramente.
Sobre política de drogas, você é favor da descriminalização,
de uma regulamentação? Sou a favor da informação, estudo, educação. Não
acredito em livre-arbítrio sem conhecimento.
Você tem vontade de ser mãe? Tenho vontade de ter filhos e
de adotar também. Quero muitas crianças. Mas só farei isso quando tiver tempo
pra ser mãe por completo.
Pararia a carreira? Certamente. Porque quero me dedicar de
fato. Fez muita diferença a minha mãe ter parado a vida dela pra mim. É uma doação,
um sacrifício. Desde que nasci minha mãe não trabalha.
E de onde vinha o dinheiro da família? Do meu pai, ele
trabalhou muito pra manter a gente.
Você quer casar? Gostaria, sim, mas não é uma obrigação. Se
não encontrar a pessoa certa, não vou casar só pra dizer que casei. Seria uma
mãe solo tranquilamente.
Qual é seu maior medo? Perder a lucidez. Nossa mente é nosso
maior bem.
Hipoteticamente: e se a fama toda acaba amanhã? Vou procurar
fazer outra coisa que me deixe feliz. Estudar, por exemplo, me deixa muito
feliz. A vida não acaba. Já tive uma sem ser famosa.
Qual é seu objetivo na carreira internacional? Um Grammy,
viver nos Estados Unidos? Não. Quero mostrar pro brasileiro que ele tem que dar
valor ao que é daqui. Brasileiro vangloria muito o que é estrangeiro e
empobrece o que é nosso. Falta patriotismo e união.
Créditos
Coordenação Geral Adriana Verani Estilo We Not Me (Bernardo
Biaso e Igor Migon) Beleza Renner Souza Assistente de foto Diego Lima
Tratamento de imagens Walter Moreno / Factory Retouch Anitta usa pulseira
Eleonora Hsiung.
Assista entrevista com Anitta, a poderosa chefona.
Texto, fotos e vídeo reproduzidos dos sites YouTube e revistatrip.uol.com.br






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