Publicado originalmente no site da revista Mundo Estranho, em 19/ago/2016.
Como o corpo humano se decompõe?
Por Julia Moióli
É um filme de terror de arrepiar os cabelos de qualquer
defunto. Depois que a gente passa desta para melhor, nosso corpo perde suas
defesas e começa a ser atacado por todos os lados: bactérias, animais e até substâncias
produzidas por nós mesmos dão início ao fim. O cadáver vai ficando escuro e
inchado, a pele e os órgãos se desfazem e o cérebro vira um caldo. Depois de
algum tempo, não sobra quase nada. A decomposição acontece em duas frentes. A
primeira é a mais esquisita: o próprio corpo se decompõe. “Quando alguém morre,
a oxigenação pára de acontecer e o organismo se desequilibra. Minerais como o
sódio e o potássio, importantes para o metabolismo, deixam de ser produzidos.
Com isso, as células se desestabilizam e passam a digerir o próprio corpo”, diz
o fisiologista e professor de medicina legal Marco Aurélio Guimarães, da
Universidade de São Paulo (USP). Ao mesmo tempo, bactérias famintas também
entram no banquete. As primeiras a avançarem na carne são as da flora
intestinal e da mucosa respiratória, que já vivem no organismo. Para
continuarem vivas, essas bactérias invadem os tecidos e os devoram. Depois
disso, as bactérias do ambiente deixam o cadáver irreconhecível. O suculento
resto fica para insetos e até cães, gatos e urubus. Em geral, um corpo
sepultado leva de um a dois anos para se decompor totalmente, mas esse tempo
pode variar dependendo das condições do ambiente e do cadáver – se o morto
tomava antibiótico, por exemplo, o processo demora bem mais. No fim, sobram
apenas ossos e dentes, que duram milhares de anos a mais que os outros órgãos.
Eles são a principal pista para que peritos consigam solucionar mortes
violentas.
Vida de morto Cadáver vira banquete para bichos e bactérias
até ficar só o osso.
SUCO PÓSTUMO
A pele passa por uma transformação radical: primeiro, ela
perde água e resseca, tornando-se amarela e enrugada. Com o ataque das
bactérias, ela fica verde e se dilata. Depois aparecem as bolhas. Quando elas
se rompem, é a maior nojeira: a pele começa a soltar líquidos e, por fim, se
desmancha
DURO NA QUEDA
O cadáver começa a ficar duro algumas horas depois da morte
por causa do acúmulo de cálcio nos músculos. O corpo do morto se contrai e fica
com pernas e braços meio dobrados. Para esticá-los, basta dar um puxão a história de que é preciso quebrar os ossos do morto para deixá-lo reto não passa de
lenda
RESISTÊNCIA MILENAR
No fim da decomposição sobram apenas os ossos e os dentes do
cadáver. O segredo é que eles são formados basicamente por minerais, enquanto
as bactérias decompositoras se interessam apenas por matéria orgânica. Se o
defunto for enterrado em condições normais, longe da umidade e do calor
excessivo, esses órgãos podem durar milhares de anos
EREÇÃO EXPLOSIVA
Como a pele da região do pênis é mais frouxa que a de outras
partes do corpo, os gases bacterianos se infiltram por ali com mais facilidade.
Como resultado, o dito-cujo tem uma falsa ereção. Mas isso não significa que o
defunto está animadinho: ele apenas se esticou com a descarga gasosa
PERFUME DE PRESUNTO
Durante a decomposição, as bactérias que consomem o corpo
fabricam subprodutos com um odor nada agradável. Substâncias como a putrescina
e a cadaverina (credo!) ajudam o corpo a cheirar tão mal. Mas o campeão do
fedor é o gás sulfídrico, que, além de tudo, é inflamável
NU COM A MÃO NO BOLSO
Como diz aquela marchinha do Silvio Santos, “do mundo não se
leva nada” nem mesmo as roupas do funeral,
que também são
uma iguaria muito apreciada pelas bactérias. O
algodão e outras fibras naturais vão embora
mais rápido, em três ou quatro anos. Já tecidos sintéticos, como náilon e
poliéster e outros derivados do plástico, podem durar décadas
VISTA EMBAÇADA
Como os outros órgãos, os olhos dos mortos também se
desidratam. A córnea fica com uma espécie de tela viscosa meio esbranquiçada,
parecida com um véu. Mais adiante, quando as bactérias e larvas começam a
atuar, os olhos são o prato predileto. Por isso, eles são corroídos rapidinho
até sumirem totalmente
MINGAU DE CÉREBRO
As células cerebrais apagam entre 3 e 7 minutos após a
morte. Dias depois, quando os gases da decomposição invadem os órgãos, os
tecidos do cérebro começam a se desmanchar. A partir daí, a massa cinzenta vai
se tornando um líquido viscoso com a consistência de um mingau de cor de
argila, que pode escorrer pelas narinas
SANGUE FRIO
Assim que o sangue pára de circular, ele perde oxigênio e
fica mais escuro. Em 8 a 12 horas, ele começa a coagular, ficando com a
consistência de uma goiabada. No fim, por ação da gravidade, o sangue
concentra-se na parte de baixo do corpo, em regiões como as costas, pernas e
pés
CRESCIMENTO DO ALÉM
Já ouviu aquele papo de que cabelos, pêlos e unhas crescem
depois da morte? É verdade! Eles são feitos de queratina, uma proteína muito
resistente. No caso de cabelos e pêlos, a estrutura onde os fios se desenvolvem
nem percebe que a irrigação sanguínea acabou. Mas isso só dura 24 horas, quando
os fios podem crescer no máximo 0,05 centímetro
DESTRUIÇÃO INTERNA
Pela ação das bactérias, os órgãos desprendem-se da
estrutura do corpo e desmancham. Os que se decompõem mais rápido são os pulmões
(que têm tecidos finos), os intestinos (que já possuem bactérias que ajudam na
digestão) e o pâncreas (cujas enzimas agem na decomposição). Um dos que mais
demoram é o fígado, pois ele é um dos maiores órgãos do corpo humano
Consultoria: Faculdade de Medicina do ABC
Texto e imagem reproduzidos do site: mundoestranho.abril.com.br
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