Adam Gazzaley, autor de “Distracted Mind” (“Mente Distraída”, em tradução livre)
Foto: KES.
Gazzaley nos convida a mudar de comportamento para
interagirmos com a tecnologia de forma saudável
Foto: Thinkstock.
Publicado originalmente no site da revista Época Negócios, em 25/09/2017
Assumindo o controle do seu cérebro e admitindo as suas
limitações
Por Knowledge Exchange Sesseion.
Vivemos na era da informação e nossa mente não resiste a
estímulos. Como reagir a esse desafio? A neurociência nos dá dicas de como
superar as distrações e melhorar nossa capacidade de aprender
Não faltam estímulos na nossa vida cotidiana: as redes
sociais, as inúmeras notificações do smartphone e o medo (ou ansiedade) estar
perdendo alguma coisa. Somos bombardeados diretamente por um volume enorme de
informações. Como lidar com isso? “Devemos ter controle sobre como interagimos
com o mundo a nossa volta”, aconselhou o neurocientista norte-americano Adam
Gazzaley, durante sua participação no KES (Knowledge Exchange Session). No
evento, realizado em 15 de agosto de 2017, na Casa Itaim, em São Paulo, o
palestrante abordou os desafios de como podemos viver melhor com a tecnologia e
aumentar nosso processo cognitivo, ainda mais em um ambiente em que fazer
muitas atividades simultaneamente é algo valorizado.
Adam começou sua apresentação falando da complexidade do
cérebro humano e do que ele chama de “mito do multitasking”. “Ainda que a gente
faça duas coisas ao mesmo tempo, como digitar e dirigir, nossa atenção não está
100% em nenhuma das atividades, e isso é um perigo”, afirmou. Além disso, o
neurocientista deu um panorama da evolução de nosso cérebro e como somos seres
especiais. “Nosso cérebro é único, pois temos objetivos. Não somos criaturas
que apenas reagem aos reflexos do ambiente”. Ele explicou que no nosso cérebro
nossos objetivos funcionam em um esquema top down (de cima para baixo) e as
influências do ambiente, em um esquema bottom up (de baixo para cima). Este
último tópico trata de nosso controle cognitivo – composto por itens como
atenção, gerenciamento de objetivos e working memory (capacidade de guardar
informações temporárias para a tomada de decisão). Eles são responsáveis por
nossa capacidade mental de viabilizar as nossas metas, e é aí que a coisa
complica. “Devemos ter controle sobre como interagimos com o mundo a nossa volta.”
Nossa mente distraída.
A tese principal do livro “Distracted Mind” (“Mente
Distraída”, em tradução livre), escrito por Gazzaley em parceria com o
psicólogo Larry D. Rosen, é a de que somos seres ávidos por informação. Essa
ideia foi desenvolvida após análise comportamental e que nós reagimos de forma
parecida com a definida por um modelo teórico, que prevê a ação de animais na
busca por comida. No exemplo dado pelo palestrante, um esquilo busca por nozes
em uma árvore e ele vai acumulando e consumindo o alimento. A teoria diz que
quanto maior o consumo, mais rápido ele procura outra fonte, pois sabe que o
alimento lá está acabando. Se a árvore estiver acessível, logo ao lado, melhor
ainda. É pra lá que o esquilo vai. Agora, troquemos o alimento por informação.
A nossa fonte pode ser o smartphone ou um app. Se você fica muito tempo neste
meio, começa a sentir necessidade de mudar para outro, em busca de mais
informação.
“A maioria dos dados sugere que quando nos engajamos com uma
fonte de informação, acumulamos tédio. Provavelmente, por causa da rapidez que
recebemos recompensas. Além disso, tem o aumento da ansiedade, de achar que se
está perdendo algo. Essa característica é ainda mais comum nas redes sociais”,
disse Gazzaley. Diferente dos esquilos, que precisam buscar árvores para se
alimentar, toda a tecnologia é baseada em “acessibilidade”. É tudo dado de
bandeja: ao ler uma matéria na internet, há diversos links. Ao receber uma
notificação, lá está um atalho para um app. E aí ficamos nesse círculo vicioso
de busca de saciedade de informação, acompanhada de tédio e ansiedade. “O
descanso é crítico para evitar uma mente distraída. Quando você não dorme
direito, a fadiga prejudica muito o processo de aprendizagem.”
Mudança de comportamento.
Já deu para perceber que nosso cérebro adora estímulos. Se a
gente não tomar o controle, inviabilizamos aqueles objetivos maiores, que nos
diferenciam dos animais. Por essa razão, Gazzaley nos convida a mudar de
comportamento para interagirmos com a tecnologia de forma saudável. O primeiro
passo é tomar consciência do problema. Depois, reduzir a acessibilidade de
meios tecnológicos. Durante tarefas que exijam atenção, deixe o smartphone de
lado, deixe e-mails para depois e desligue as notificações.
Além disso, devemos controlar nosso tédio e ansiedade –
pausas programadas durante trabalhos longos podem ajudar a tornar a tarefa de
fazer uma coisa por vez mais prazerosa. Além de evitar distrações, o
neurocientista relembrou atividades que parecem básicas, mas que são
importantíssimas para melhorar nossa capacidade de aprender, como comer bem,
praticar exercícios físicos, diminuir o estresse e dormir. “O descanso é
crítico para evitar uma mente distraída. Quando você não dorme direito, a
fadiga prejudica muito o processo de aprendizagem.”
Aumentando a capacidade de aprender.
Ainda que a tecnologia possa parecer vilã, é justamente nela
que Adam aposta para melhorar nossa capacidade de aprender. No Neurosape,
laboratório de neurociência da UCSF (University California San Francisco), nos
Estados Unidos, ele aplica tecnologia à neurociência. Usando apps, video games
e realidade virtual, o centro de pesquisa tem desenvolvido formas de melhorar
as funções cerebrais para ajudar no tratamento de doenças como autismo, TDA
(Transtorno de Déficit de Atenção), depressão, entre outras.
Como parte desse esforço de juntar tecnologia com
neurociência, Adam passou a aplicar parte do conhecimento na Akili Labs, uma
companhia que une especialistas da área de neurologia e desenvolvedores da área
de entretenimento. Uma das aplicações feitas pela companhia é o Project Evo, um
game para iPad em que o jogador deve desviar de uma série de obstáculos. O game
pode parecer simples, mas ele está sendo considerado para o tratamento de
pessoas com déficit de atenção – inclusive a companhia vai aplicar para receber
aprovação nos EUA, de modo que o game seja considerado um tratamento oficial
para deficiência cognitiva.
Texto e imagens reproduzidos do site: epocanegocios.globo.com
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