Jason Merkoski trabalhou no desenvolvimento do primeiro Kindle
e é autor do livro “Burning the page:
The eBook Revolution and the Future of Reading”
The eBook Revolution and the Future of Reading”
Foto: Divulgação.
Entrevista: ‘Lojas de livros não conseguirão sobreviver’
Jason Merkoski, ex-evangelista da Amazon, diz que livros de
papel se tornarão raros como discos de vinil
Por Ligia Aguilhar
SÃO PAULO – “As pessoas da Amazon não se importam realmente
com o que você quer como consumidor.” A frase soa surpreendente ao sair da boca
de Jason Merkoski, primeiro evangelista (responsável por disseminar novas
tendências) da Amazon e um dos membros da equipe que desenvolveu o primeiro
leitor de livros digitais Kindle, lançado em 2007.
Fundador da startup Bookgenie451, criadora de um software
que identifica interesses de leitura de estudantes para recomendar livros
didáticos, Merkoski mistura otimismo com alguma cautela quando o assunto são
livros digitais.
Na quinta-feira, 21, ele vem ao Brasil participar do 5º
Congresso Internacional CBL do Livro Digital, em São Paulo, no qual vai falar
sobre a sua obra Burning the page: The eBook Revolution and the Future of
Reading (ainda sem título em português), na qual decreta o fim do livro
impresso.
Ao Link, ele deu mais detalhes sobre as mudanças e problemas
que prevê para o mercado editorial. Confira os principais trechos.
Você decreta o fim dos livros impressos em sua obra, mas as
vendas de tablets e leitores digitais começam a se estabilizar sem que isso
tenha acontecido. O que falta para o livro digital se popularizar?
O que mais influencia a popularidade é a seleção de títulos.
O que vimos acontecer nos EUA e Japão é que, uma vez que as pessoas consigam
encontrar 80% dos títulos que buscam no digital, a chance delas migrem para
e-books é de 100%.
Quanto tempo demora para essa mudança acontecer?
Cerca de três anos depois que os livros digitais estão
disponíveis em um país.
Serviços de streaming podem ajudar nessa popularização?
O problema de serviços de streaming como o da Amazon é que
eles têm vários livros no catálogo que as pessoas não querem ler. Um dos
desafios é definir um modelo de preços para e-books, que hoje não existe. Até
isso ser feito será difícil tornar o streaming uma experiência satisfatória e o
seu custo sustentável.
Você esperava esses impactos quando ajudou a criar o Kindle?
Como indústria, acho que revolucionamos o mercado editorial,
o que é assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Como dono de uma empresa de livros
digitais, digo que é muito difícil trabalhar com editoras hoje, porque o mundo
delas está em colapso. É como se elas estivessem no Titanic após bater no
iceberg, sem coletes salva vidas, com o barco pegando fogo e naves alienígenas
atirando contra o barco. As editoras estão confusas e com medo.
Teremos problemas com a coleta e uso de dados sobre nossos
hábitos de leitura?
Certamente. Não vai demorar para começarmos a ver
propagandas dentro dos e-books. Mas não estou realmente preocupado com o que a
Amazon e o Google vão saber sobre mim porque acho que já aceitei que,
inevitavelmente, eles saberão das coisas de algum jeito.
Esses dados também geram recomendações de leitura. Essa
facilidade pode ter um lado ruim, como afastar o leitor de clássicos em prol de
best-sellers?
Algum conteúdo poderá ser negligenciado com toda certeza. O
problema de livros clássicos é que eles não são sexy e não são promovidos na
página de entrada da Amazon porque a empresa não vai ganhar dinheiro com eles.
O que menos gosto da virada do livro para o digital é a cultura do momento.
Recomendamos apenas coisas atuais. Ferramentas de recomendação precisam
melhorar.
Você já declarou em entrevistas que é difícil amar a Amazon…
Acho que o papel das empresas maiores não é estar na minha
cara enquanto eu estou lendo. Elas podem ser mais sutis e acredito que esse é
um papel que a Amazon faz mal. Hoje os varejistas conseguem aprender quem você
é. Seria interessante se essas informações fossem repassadas para as editoras
criarem conteúdo. Mas os varejistas retêm todos os dados. É por isso que o
sistema está quebrado.
O que acontecerá com a palavra escrita?
Eu realmente acho que o futuro da palavra escrita é ser
falada, porque a escrita é devagar. Os livros do futuro serão falados porque
tudo gira em torno da fala hoje em dia. Aparelhos como o iPhone, com a Siri,
permitem que você fale ao telefone o que você quer fazer.
Acredita que bibliotecas e livrarias vão mesmo acabar?
Não acho que o futuro será bom. Meus estudos mostram que nos
últimos três anos os alunos gastaram 70% menos tempo nas bibliotecas das
universidades. Onde eles estão pegando informação? Na Wikipédia ou em sites. As
lojas de livros não conseguirão sobreviver e vão desaparecer. Sobrarão apenas
algumas, especializadas em livros impressos, como as que vendem discos de
vinil. Vão permanecer no mercado Google e Amazon, infelizmente. Conheço as
pessoas da Amazon. E elas não se importam com o que você quer como consumidor.
Elas se importam em como conseguir mais lucro. Uma maneira de fazer isso é
empurrando livros populares, negligenciando outros. E infelizmente as pessoas
vão aceitar. A curadoria de títulos está na mão dos varejistas.
Foto e texto reproduzidos do site: http://blogs.estadao.com.br/link
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