Publicado originalmente no site da Revista Planeta Ed.543,
em 21/01/2019
Solidão galáctica?
Por que o enorme número de planetas na Via Láctea ainda não
resultou em um contato com civilizações alienígenas? Uma análise de cientistas
ingleses tenta responder à questão.
É uma pergunta habitual: se há pelo menos 100 bilhões de
planetas na nossa galáxia, a Via Láctea, por que nenhuma civilização alienígena
se apresentou a nós? O astrônomo americano Seth Shostak, do projeto de busca
por inteligência extraterrestre (Seti, na sigla em inglês), voltou ao tema em
julho ao abordar um artigo recente de três pesquisadores da Universidade de
Oxford (Inglaterra).
O artigo analisa o Paradoxo de Fermi, um quebra-cabeça
baseado em um questionamento do físico italiano Enrico Fermi sobre “onde está
todo mundo”. Fermi calculou quanto tempo uma sociedade com foco em erguer um
império levaria para dominar a Via Láctea e chegou a algumas dezenas de milhões
de anos – número quase mil vezes menor do que a idade da galáxia. Ou seja: há
tempo mais do que suficiente, mas até agora ninguém deu o ar da graça.
Os pesquisadores pensam que a explicação para isso está nos
números inflados com que especulamos quantas sociedades alienígenas existem na
galáxia. Os cálculos se baseiam na Equação de Drake, criada pelo astrônomo
americano Frank Drake (fundador do Seti) em 1961. Ela estima a frequência com
que espécies inteligentes surgem multiplicando a probabilidade de que a vida
apareça pela probabilidade de que ela se capacite a desenvolver ciência e
tecnologia.
Segundo os ingleses, os valores da equação constituem
basicamente suposições. Um exemplo é a probabilidade – entre 1% e 10%, diz a
fórmula – de que micróbios saiam da sopa primordial de um planeta aquático. O
índice seria bem menor, avaliam os pesquisadores.
Shostak reconhece que sabemos muito pouco sobre esses
números. Se, por exemplo, micróbios forem descobertos em uma lua de Saturno,
isso aumentaria muito a possibilidade de encontrar vida em outros cantos da
galáxia, o que exigiria rever o conceito dos ingleses. Para Shostak, a única
forma de melhorar as estimativas é seguir investigando o tema. Ele lembra que,
antes da descoberta da Antártida, a possibilidade de haver um continente
austral era de 10 para 1. “Isso demonstra que você não faz descobertas
calculando probabilidades, apenas investigando – no caso da Antártida, isso
significava enviar navios para o sul”, diz. E conclui: “Sempre vale a pena
calcular as chances de sucesso em nossa busca por confrades cósmicos. Mas tais
exercícios não devem nos impedir de uma busca real.”
Texto e imagem reproduzidos do site: revistaplaneta.com.br
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