Os vários tipos de inteligência: musical, intrapessoal, espacial , corporal, matemática, emocional.
Qual é a sua?
Qual é a sua?
O que Pelé e Einstein têm em comum? Ambos são gênios, mas cada um na sua área de especialidade.
Texto: Maíra Lie Chao
A mente brilhante, que nos coloca no topo da cadeia
alimentar e da curva da evolução, tem inspirado vários estudos ao longo dos
anos. O que é a inteligência, como medi-la e aumentá-la é um assunto que não
sai de moda. Não é à toa que todo mês deparamos com manchetes ligadas ao
desenvolvimento mental. Mas, afinal, o que é inteligência e como ela se aplica
nos dias de hoje?
Essa faculdade é tão complexa que, não por acaso, ainda não
se chegou a um significado universalmente aceito sobre ela. Um conceito usado
atualmente é o do psicólogo norte-americano Howard Gardner, que classifica a
inteligência como a habilidade de resolver problemas ou criar produtos de valor
nos ambientes culturais nos quais se está inserido. “Pessoas “mais
inteligentes” tendem a resolver problemas em menos tempo e com menos esforço
mental, sendo mais eficientes”, afirma Káritas de Toledo Ribas, sócia-diretora
da empresa Appana Mind – Desenvolvimento Humano e Psicofisiologia Aplicada e
especialista em medicina comportamental. Segundo ela, eficiência significa “a
capacidade de gerar trabalho a um custo energético reduzido”.
Com base nesse conceito de inteligência, pode se dizer que
ela não é apenas uma questão de QI, mas um conjunto de habilidades. Então,
dizer que Pelé, o rei do futebol, é tão inteligente quanto foi o físico Albert
Einstein não é errado. A explicação disso veio nos anos 1990, quando Gardner
apresentou sua teoria sobre inteligências múltiplas, com sete tipos diferentes
de intelecto: linguístico, lógico-matemático, espacial, intrapessoal,
corporal-sinestésico, interpessoal e musical (veja no texto “Tipos de
inteligência”, ao final da reportagem). Segundo ele, essa classificação pode
ser de grande ajuda para potencializar o aprendizado.
Diversos fatores influenciam o desenvolvimento mental da
criança. “Inteligência é o somatório de herança biológica e meio ambiente, que
é tudo o que gira ao nosso redor, inclusive alimentação, estímulo e cultura”,
afirma Káritas. Partindo disso, o escritor Malcolm Gladwell, em seu livro
Outliers – Fora de Série, expõe por que algumas pessoas têm sucesso e outras
não. Segundo ele, além da inteligência, fatores como contexto histórico,
oportunidades e esforço determinam o sucesso.
O sucesso é uma soma de inteligência, esforço, contexto
histórico e oportunidade,
segundo o escritor norte-americano Malcolm Gladwell
Inteligência variável
Estudos indicam que algumas variáveis como nível
socioeconômico, idade, sexo e grau de escolaridade podem influenciar nos testes
de inteligência. Os alunos de classe média alta, por exemplo, tendem a ter
melhores resultados que os de classe média baixa no teste de Goodenough, no
qual as crianças desenham um homem, e em sua revisão, em que elas desenham um
homem e uma mulher.
Para ilustrar seu argumento, Gladwell cita uma experiência
do psicólogo norte-americano Lewis Terman, da Universidade Stanford. Em 1920,
Terman começou a monitorar cerca de 1.500 estudantes ditos “superdotados”, com
o QI superior a 140. Sua hipótese era que essas crianças seriam a próxima
geração da elite norte-americana. Gladwell aponta que essa ideia representa o
modo como entendemos o sucesso, uma vez que há escolas e programas especiais
para superdotados, além da preferência de algumas empresas por eles.
Mas, ao contrário do que Terman esperava, o QI elevado não
foi a matéria-prima do sucesso. No final do estudo, os 730 homens que
apresentaram resultados conclusivos foram divididos em três grupos. Os 150
integrantes do grupo A (pouco mais de 20% do total) obtiveram sucesso:
formaram-se advogados, médicos e acadêmicos, a maioria com pós-graduação. Os
pertencentes ao grupo B – 430 homens, quase 60% do total – conseguiram
resultados “satisfatórios”: obtiveram o diploma de graduação e estavam em boa
condição de vida. Já o grupo C, com 150 integrantes, obteve resultados
inferiores a sua capacidade intelectual. Muitos deles exerciam funções
secundárias, como vendedores de sapatos, ou estavam desempregados; apenas oito
homens cursaram pós-graduação; um terço deles havia abandonado a faculdade e um
quarto só possuía diploma do nível médio.
“A verdade nua e crua do estudo de Terman é que (…) quase
nenhuma das crianças geniais da classe social e econômica mais baixa conseguiu
se destacar”, escreve Gladwell. Ele argumenta que o fracasso nesse caso não
pode ser atribuído a características do DNA ou circuitos cerebrais. “O que elas
não tiveram foi algo que poderiam ter recebido, se soubessem que era daquilo
que necessitavam: uma comunidade ao redor que as preparasse para o mundo.”
A experiência de Terman prova que, tratandose de
inteligência, há muito a considerar. Vários teóricos se opõem aos testes de QI
(veja quadro ao lado) – inclusive Gardner. “Para ele, rotular a inteligência
como um escore depois da realização de testes lógicos e matemáticos é negar de
forma veemente a gigantesca capacidade do ser humano em resolver problemas
através de outras qualidades”, explica Marcello Árias Dias Danucalov,
psicofisiologista com experiência em técnicas de integração cérebro, mente e
corpo e sócio-diretor da Appana Mind. Os testes, segundo Gardner, medem apenas
uma parte da inteligência, a referente à lógico-matemática.
A teoria de Gardner sobre inteligências múltiplas diz que
todos nascem com tendências genéticas e elas, quando potencializadas pelo
ambiente, podem resultar em diferentes habilidades. “A pessoa nasce com todas
as inteligências e desenvolve apenas uma ou duas até a excelência.
Provavelmente, elas são dependentes não apenas de um gene, mas de inúmeros
genes, que se relacionam de forma complexa”, diz Danucalov. A pergunta, então,
é: como descobrir quais são nossas inteligências mais afloradas? Káritas afirma
que há testes psicológicos para determiná-las, “mas a melhor forma é fazer com
que a pessoa esteja inserida em ambientes desafiadores que estimulem todas as
formas de manifestação cognitiva”. Ela também lembra que é importante
proporcionar vivências ao indivíduo para que ele perceba naturalmente em quais
atividades se sobressai.
Qual é o seu QE?
A imprensa começou a prestar atenção na questão da
inteligência emocional com a publicação da obra Inteligência Emocional, de
Daniel Goleman. Hoje, seus conceitos são aplicados em muitas profissões,
sobretudo na área de recursos humanos. A inteligência emocional também corresponde
à interpessoal e intrapessoal propostas por Howard Gardner.
Segundo Danucalov, desenvolvemos as inteligências ao longo
da vida, mas existem as chamadas “janelas de oportunidade”, períodos nos quais
o aprendizado é facilitado. “Podemos aprender uma nova língua a qualquer
momento da vida, mas, se quisermos aprendê-la sem sotaque, precisamos ser
expostos a ela precocemente, até os 10 anos de idade”, exemplifica. Ele também
sublinha que trabalhar com as múltiplas inteligências pode ser mais complexo
que o imaginado. Por exemplo, uma criança ter aula de violão uma vez por semana
não implica o desenvolvimento da inteligência musical. “Há mais chance de
desenvolver essa inteligência se o ensino dos acordes e das sequências
harmônicas estiver atrelado à necessidade de solucionar um problema, transmitir
uma informação”, explica.
Em sua obra, Gardner deixou as portas abertas para novos
tipos de inteligência. Tanto que outros pesquisadores começaram a lançar
hipóteses de diferentes intelectos, como o naturalista, referente ao
conhecimento da natureza. Segundo Gardner, para uma nova classificação de
inteligência ser aceita pela academia, ela deve preencher alguns quesitos, como
base biogenética e neurológica, e possibilidade de essa capacidade facilitar a adaptação
ao meio. No entanto, Danucalov enfatiza que não existem indivíduos que consigam
utilizar o potencial de todas as inteligências. “Os seres humanos devem ter
tendências genéticas a desenvolver uma ou duas das citadas inteligências; as
demais estarão presentes, porém não atingirão grandes escores quando medidas.”
O escritor canadense Don Tapscott, autor de A Hora da
Geração Digital, não propõe um tipo de inteligência, mas sublinha que a
tecnologia tem causado impacto no comportamento e no cérebro. No livro, ele
aponta algumas alterações nas habilidades mentais de uma pessoa em razão da
tecnologia, como o caso de C. Shawn Green, aluno de medicina da Universidade de
Rochester (Estados Unidos), que obteve nota máxima em um teste de reflexos
visuais no qual as outras pessoas conseguiam em média 60% de sucesso. A
justificativa para o olhar aguçado foram as horas jogando Counter- Strike, um
game de ação para computador no qual o jogador deve encontrar terroristas e
matá-los. Em artigo publicado na revista científica Nature, Green e a
neurocientista Daphne Bavelier, da Universidade de Rochester, escrevem que esse
tipo de jogo é capaz de aumentar a percepção e o processamento de informações
visuais.
“O cérebro é especialmente adaptável a influências externas nos
primeiros três anos de vida, na adolescência e nos primeiros anos da vida
adulta, que é exatamente quando a maioria dos jovens da geração internet está
mergulhada na tecnologia digital interativa de 20 a 30 horas por semana”,
escreve Tapscott. Baseado nesse pressuposto, o autor argumenta que muitos
integrantes dessa geração possuem algumas habilidades a mais, como capacidade
espacial, rapidez em pesquisas na web e troca de atenção em tarefas.
Tapscott lembra que muitos estudos desfizeram o mito de que o
cérebro para de se desenvolver após uma certa idade. Segundo ele, certas
pesquisas comprovam que o cérebro muda ao longo da vida. Por exemplo, alguns
taxistas de Londres, que precisam decorar todas as ruas de sua cidade, têm o
hipocampo (região do cérebro associada à memória) maior que o de motoristas de
outras categorias. Logo, o cérebro dos jovens que se expõem muitas horas por
dia à tecnologia interativa pode ser remodelado ao longo de sua vida,
potencializando certas habilidades.
De acordo com Tapscott, ao contrário do que muitos
pesquisadores alegam, os jovens de hoje podem ser potenciais gênios. O escritor
canadense frisa que as novas tecnologias de informação estão remodelando a
maneira como as pessoas absorvem conhecimento e o passam adiante. Com isso,
talvez daqui a alguns anos se possa diagnosticar novos tipos de inteligência,
capazes de enfrentar os desafios com que a humanidade já se defronta.
História do QI
Em 1900, o psicólogo francês Alfred Binet criou um teste
capaz de predizer se uma criança obteria sucesso nas séries primárias das
escolas parisienses. O exame, que avaliava a idade mental do jovem, foi
considerado o primeiro teste de inteligência. Em 1914, três anos após a morte
de Binet, o alemão William Stern propôs a fórmula de divisão da idade mental da
criança pela cronológica. O resultado seria o quociente de inteligência, o QI
que conhecemos. Mais tarde, essa fórmula foi revisada por Lewis Terman, da
Universidade Stanford, que multiplicou o resultado por 100, dando origem ao
teste de inteligência Stanford-Binet, um dos mais usados por 50 anos.
Tipos de inteligência
Howard Gardner identificou sete tipos de inteligência e
elaborou requisitos para identificar outros tipos de talentos.
Linguística – Relacionada a leitura, escrita e fala. Pessoas
que têm seu ponto forte na linguagem, como poetas e escritores, possuem
facilidade em lidar com a expressão escrita e oral. Jorge Amado e Carlos
Drummond de Andrade são exemplos dessa inteligência.
Musical – Associada àqueles que têm facilidade em
compreender o som, captar sua expressão e transmitir sentimento através dele,
como Mozart, Jimi Hendrix e Gilberto Gil.
Lógico-matemática – É a inteligência que remete ao universo
lógico, repleto de números e fórmulas. A maioria dos testes de QI acaba medindo
esse tipo de intelecto, exemplificado nos físicos Albert Einstein e Niels Bohr.
Espacial – Está relacionada a pessoas que têm facilidade em
trabalhar com coordenadas espaciais e em pensar em imagens, como o arquiteto
Oscar Niemeyer ou o pintor Pablo Picasso.
Corporal-cinestésica – A facilidade em se locomover pelo
espaço, conhecer bem o potencial físico do seu corpo e ter boa coordenação
motora é típica de grandes nomes do esporte, como Pelé e Michael Jordan.
Interpessoal – Está ligada à habilidade de lidar com outras
pessoas e a trabalhar em grupo. Frequentemente é vinculada a professores e
políticos, como Barack Obama.
Intrapessoal – É a inteligência relacionada ao
autoconhecimento e ao equilíbrio interior, inclusive quando a pessoa se
encontra em situações difíceis. O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela é
um de seus melhores exemplos.
Naturalista – Essa inteligência, proposta após a divulgação
das ideias de Gardner, está associada àqueles que têm grande facilidade em
transitar pela natureza, como os índios.
Texto e imagens reproduzidos do site: revistaplaneta.com.br
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