Estudantes chegaram cedo para realizar a prova em uma
universidade de Brasília
Foto Valter Campanato/Agência Brasil
Redação do Enem aborda manipulação de usuários na internet
Por Deutsche Welle
Entre os textos usados para reflexão, figurava o artigo
"A silenciosa ditadura do algoritmo", de Pepe Escobar, publicado por
CartaCapital
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
2018 foi "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados
na internet", informou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova.
Mais de 5,5 milhões de estudantes estão inscritos para a
realização do exame em mais de 1,7 mil municípios. Este domingo 4 é o primeiro
dia de provas, quando, além da redação, os candidatos respondem a 45 questões
de linguagens e outras 45 de ciências humanas.
O texto da redação deve ser dissertativo-argumentativo, com
opinião fundamentada com explicações e argumentos em até 30 linhas. Os
candidatos desenvolvem o texto a partir de uma situação-problema, bem como
subsídios oferecidos por textos motivadores.
Segundo o portal G1, entre os quatro textos motivadores
apresentados neste ano, dois abordam diretamente a questão de algoritmos:
"A silenciosa ditadura do algoritmo", de Pepe Escobar e publicado por
CartaCapital, e "O gosto na era do algoritmo", escrito pelo
jornalista Daniel Verdú, do jornal El País.
Segundo professores de redação consultados pela Agência
Brasil, o tema da redação neste ano é complexo, mas atual, tendo sido
trabalhado em muitas escolas.
O assunto veio à tona principalmente depois da eleição do
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016, quando dados de milhões
de usuários do Facebook foram usados pela consultoria britânica Cambridge
Analytica para desenvolver técnicas de direcionamento de informações que teriam
beneficiado a campanha do republicano.
A professora de redação Carol Achutti, do curso online
Descomplica, lembra que o tema foi intensamente observado também nas últimas
eleições no Brasil. "É uma inovação. Colocaram um dedinho na ferida. Por
isso achei importante levantar essa discussão."
Segundo Achutti, a escolha tem um caráter diferente dos anos
anteriores. "O recorte escolhido é quase político. Não é social como
estamos acostumados", afirma. Em edições passadas, a redação abordou temas
como imigração, Lei Seca, violência contra a mulher, intolerância religiosa,
racismo e, no ano passado, formação educacional de surdos no país.
A professora alerta, porém, para o risco de os estudantes
confundirem manipulação de dados na internet com propagação de notícias falsas,
as chamadas fake news – que podem ser mencionadas na argumentação, mas não
entendidas como tema central da redação.
Achutti afirma que o texto dos candidatos poderá argumentar
sobre questões mundiais, como as eleições americanas, bem como sobre marketing
dirigido nas redes sociais. "Quem for muito partidário e se inflamar pode
ser parcial e tangenciar o tema", adverte.
Por sua vez, Tatiana Nunes, professora de redação e língua
portuguesa do Colégio Mopi, no Rio de Janeiro, diz que o tema era "mais do
que aguardado" neste ano. Para ela, a abordagem escolhida foi "muito
bem feita, mas bastante delicada". "O estudante terá de estar bem
preparado para fazer essa leitura crítica do que está sendo pedido no
tema."
Coordenador pedagógico do Vetor Vestibulares, Rubens César
Carnevale alerta que, ao escrever sobre o assunto, o estudante precisa ter
cautela para não fugir de discussões atuais e não usar informações falsas na
hora de argumentar.
"Os candidatos precisam tomar cuidado com aquilo que
chamamos de coerência externa. O aluno que citar alguns dados e fatos que não
sejam pertinentes ao contexto e que não sejam verdadeiros poderá perder
pontos", aponta ele, que foi corretor da redação do Enem por três anos
consecutivos, de 2014 a 2016.
Enem 2018
A prova deste domingo começou a ser aplicada às 13h30 (no
horário de Brasília), e a maioria dos participantes tem 5 horas e 30 minutos
para terminá-la – com exceção de candidatos que têm direito a tempo adicional,
como deficientes auditivos.
Os primeiros alunos a deixarem o local de prova relataram ao
jornal O Globo que as 90 questões de ciências humanas e linguagens abordaram
temas como feminismo, nazismo, escravidão, o golpe de 1964 e a crise de
refugiados.
O exame segue no próximo domingo, dia 11 de novembro, quando
os estudantes terão de responder a questões de ciências da natureza e
matemática.
A nota do Enem poderá ser usada para concorrer a vagas no
ensino superior público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a bolsas em
instituições privadas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), bem como
para participar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Texto e imagem reproduzidos do site: cartacapital.com.br
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