terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Cresci, e agora? O que significa 'ser adulto' hoje em dia


Publicado originalmente no site [huffpostbrasil.com], em  03/12/2019

Cresci, e agora? O que significa 'ser adulto' hoje em dia

Eu não sei exatamente quando comecei a prestar atenção nesses momentos aparentemente insignificantes, mas que se tornaram uma espécie de 'marcos da vida adulta' para mim.

By Ana Beatriz Rosa

Eu não sei exatamente quando comecei a prestar atenção nesses momentos aparentemente insignificantes, mas que se tornaram uma espécie de ‘marcos da vida adulta’ para mim.

Pode ter sido na primeira vez que passei reto em uma vitrine de chocolates do supermercado, ou que escolhi o brócolis no lugar da lasanha congelada. Ou quando eu consegui discutir sem chorar, apesar de ter ficado muito nervosa. Pode ter sido quando encarei um conflito, mesmo tentando adiá-lo algumas vezes. Ou quando assumi que errei e não me desesperei com a minha própria falha.

É engraçado como algumas palavras parecem estar diretamente ligadas ao vocabulário-da-vida-adulta: estabilidade, casamento, conta corrente, casa própria. Mas o que significa se tornar adulto hoje em dia?

Já passei dos 20, ainda não construi tudo isso, então será que é por isso que nem sempre me sinto lá tããão adulta assim? Devo admitir que falhei?

Sim e não. Explico. Há uma razão para que eu me sinta assim, afinal, a transição da adolescência para a vida adulta nunca acontece exatamente da maneira como gostaríamos, especialmente quando a gente cria um abismo entre a forma como a gente se enxerga e àquela imagem que criamos do que o mundo espera de nós.

Quando nossos pais e avós, por exemplo, estavam super focados em surfar no boom econômico que o mundo vivia com o fortalecimento do capitalismo e a sociedade de bens de consumo à todo vapor por aí, se tornar adulto, talvez, significasse ter uma carreira linear, valorizar hierarquias e conseguir comprar o carro próprio.

Mas e quando precisamos lidar com a nossa primeira crise financeira, com o custo de vida cada vez mais alto e a instabilidade em um mercado de trabalho que vive em transformação? Isso me faz pensar que a ideia de “economizar para comprar a casa própria” talvez seja algo que somente os muito privilegiados podem sonhar - o que faz com que a gente precise criar as nossas próprias versões do que é ser um adulto bem-sucedido aos 30.

Uma parte da minha geração (olá, millennials e geração Z) já nasceu acostumada com alguma prosperidade econômica presente no mundo, e é por isso que sempre quis mais: cada vez mais focados no próprio desenvolvimento, o pensamento que talvez mais nos atinja é aquele de que  sempre “falta” algo para que a gente chegue a nossa melhor versão.

Veja bem, não estou dizendo que estabilidade financeira não importa, inclusive, também quero. Ainda vivemos na mesma sociedade capitalista em que o dinheiro e o acúmulo de bens diz muita coisa sobre quem você é.

Mas pode ser que agora a gente não enxergue o dia em que seremos donos da nossa própria casa como o maior marco aspiracional da nossa vida adulta, como foi para nossos pais.

Ressignificamos o ideal de casamento como única forma de relacionamento possível. Expandimos o conceito de família. Flexibilizamos a forma como enxergamos as oportunidades de carreira e repensamos o nosso consumo.

Repito, não sei exatamente quando passei a olhar com atenção aos momentos em que me senti mais adulta nos últimos meses. E a verdade é que, para mim, se tornar adulto diz muito mais sobre o nosso amadurecimento pessoal, sobre como nós compreendemos as nossas experiências, sejam elas boas ou ruins.

É muito mais do que chegar a uma determinada idade com um checklist completo de coisas que você deveria alcançar para ser digno de sucesso. E sim, desculpa te dizer, mas os nossos dilemas não vão embora quando chega a independência financeira, apesar da importância que isso tem.

Talvez, o segredo da vida adulta seja realmente este: nem todo mundo sabe o que está fazendo. E está tudo bem se estivermos um pouco perdidos.

Mesmo que essa transição pareça assustadora, é, ao mesmo tempo, um período muito libertador. Por que é justamente nessa fase que abrimos espaço para arriscar, errar, testar e experimentar ser quem somos, de verdade.

Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com

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