Publicado originalmente no site [huffpostbrasil.com], em 03/12/2019
Cresci, e agora? O que significa 'ser adulto' hoje em dia
Eu não sei exatamente quando comecei a prestar atenção
nesses momentos aparentemente insignificantes, mas que se tornaram uma espécie
de 'marcos da vida adulta' para mim.
By Ana Beatriz Rosa
Eu não sei exatamente quando comecei a prestar atenção
nesses momentos aparentemente insignificantes, mas que se tornaram uma espécie
de ‘marcos da vida adulta’ para mim.
Pode ter sido na primeira vez que passei reto em uma vitrine
de chocolates do supermercado, ou que escolhi o brócolis no lugar da lasanha
congelada. Ou quando eu consegui discutir sem chorar, apesar de ter ficado
muito nervosa. Pode ter sido quando encarei um conflito, mesmo tentando adiá-lo
algumas vezes. Ou quando assumi que errei e não me desesperei com a minha
própria falha.
É engraçado como algumas palavras parecem estar diretamente
ligadas ao vocabulário-da-vida-adulta: estabilidade, casamento, conta corrente,
casa própria. Mas o que significa se tornar adulto hoje em dia?
Já passei dos 20, ainda não construi tudo isso, então será
que é por isso que nem sempre me sinto lá tããão adulta assim? Devo admitir que
falhei?
Sim e não. Explico. Há uma razão para que eu me sinta assim,
afinal, a transição da adolescência para a vida adulta nunca acontece
exatamente da maneira como gostaríamos, especialmente quando a gente cria um
abismo entre a forma como a gente se enxerga e àquela imagem que criamos do que
o mundo espera de nós.
Quando nossos pais e avós, por exemplo, estavam super
focados em surfar no boom econômico que o mundo vivia com o fortalecimento do
capitalismo e a sociedade de bens de consumo à todo vapor por aí, se tornar
adulto, talvez, significasse ter uma carreira linear, valorizar hierarquias e
conseguir comprar o carro próprio.
Mas e quando precisamos lidar com a nossa primeira crise
financeira, com o custo de vida cada vez mais alto e a instabilidade em um
mercado de trabalho que vive em transformação? Isso me faz pensar que a ideia
de “economizar para comprar a casa própria” talvez seja algo que somente os
muito privilegiados podem sonhar - o que faz com que a gente precise criar as
nossas próprias versões do que é ser um adulto bem-sucedido aos 30.
Uma parte da minha geração (olá, millennials e geração Z) já
nasceu acostumada com alguma prosperidade econômica presente no mundo, e é por
isso que sempre quis mais: cada vez mais focados no próprio desenvolvimento, o
pensamento que talvez mais nos atinja é aquele de que sempre “falta” algo para que a gente chegue a
nossa melhor versão.
Veja bem, não estou dizendo que estabilidade financeira não
importa, inclusive, também quero. Ainda vivemos na mesma sociedade capitalista
em que o dinheiro e o acúmulo de bens diz muita coisa sobre quem você é.
Mas pode ser que agora a gente não enxergue o dia em que
seremos donos da nossa própria casa como o maior marco aspiracional da nossa
vida adulta, como foi para nossos pais.
Ressignificamos o ideal de casamento como única forma de
relacionamento possível. Expandimos o conceito de família. Flexibilizamos a
forma como enxergamos as oportunidades de carreira e repensamos o nosso
consumo.
Repito, não sei exatamente quando passei a olhar com atenção
aos momentos em que me senti mais adulta nos últimos meses. E a verdade é que,
para mim, se tornar adulto diz muito mais sobre o nosso amadurecimento pessoal,
sobre como nós compreendemos as nossas experiências, sejam elas boas ou ruins.
É muito mais do que chegar a uma determinada idade com um
checklist completo de coisas que você deveria alcançar para ser digno de
sucesso. E sim, desculpa te dizer, mas os nossos dilemas não vão embora quando
chega a independência financeira, apesar da importância que isso tem.
Talvez, o segredo da vida adulta seja realmente este: nem
todo mundo sabe o que está fazendo. E está tudo bem se estivermos um pouco
perdidos.
Mesmo que essa transição pareça assustadora, é, ao mesmo
tempo, um período muito libertador. Por que é justamente nessa fase que abrimos
espaço para arriscar, errar, testar e experimentar ser quem somos, de verdade.
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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